Porque querem Harry e Meghan conquistar a América?
Oprah estala os dedos e o mundo cai a seus pés. E ai de quem vá contra si. Ou contra quem ela decide pôr sob a sua asa, esse lugar onde Harry e Meghan agora se encontram.
O programa de domingo à noite terá rendido milhões em publicidade (o The Wall Street Journal avança que cada segmento de 30 segundos de publicidade custou 325 mil dólares – e não foram poucos…) e contratos de retransmissão (a ITV terá, escreveu o The Guardian, pago um milhão), tendo conseguido ser o assunto de todas as redes sociais nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas também no resto do mundo. Mas a pergunta do bilião continua por responder: por que razão decidiram Harry e Meghan dar uma entrevista? E qual o motivo de darem o exclusivo a Oprah Winfrey?
Para encontrar uma resposta é, primeiro, preciso perceber quem é a Oprah.
Oprah Winfrey poderia ser rainha nos Estados Unidos, tal o seu poder no país. E, segundo a Forbes deliberou há um ano, está entre as 20 mulheres mais poderosas de todo o mundo, numa lista liderada por Angela Merkel, chanceler da maior economia europeia, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA.
Basicamente, e ao contrário do que sucede actualmente com qualquer membro da família real britânica no Reino Unido, Oprah estala os dedos e o mundo cai a seus pés. E ai de quem vá contra si. Ou – e isto é que interessa – contra quem ela decide pôr sob a sua asa, esse lugar onde Harry e Meghan agora se encontram, granjeando-lhes a simpatia e o apoio dos americanos: dos mais comuns às celebridades.
E, depois da entrevista, não faltam manifestações de apoio: a tenista profissional Serena Williams, por exemplo, partilhou no Twitter uma mensagem de apoio, considerando que as palavras de Meghan “ilustram a dor e a crueldade que viveu”. “Conheço em primeira mão o sexismo e as instituições racistas.”
Mas o maior apoio poderá residir nos media. É que, se no Reino Unido se afiam facas para tentar a melhor (talvez devesse ser pior…) manchete contra os dois – mas especialmente contra Meghan, em relação a quem a Imprensa britânica parece ter um ódio de estimação, conseguindo sempre colocá-la sob a pior perspectiva possível –, do lado oposto do Atlântico, a forma como são retratados é um pouco diferente.
O The New York Times, por exemplo, questiona a notícia que saiu no The Times no início da semana passada, em que se explora uma queixa de bullying contra a duquesa e o seu comportamento supostamente irascível. É que, escreve o jornal americano, “a maioria das citações do The London Times são atribuídas a fontes anónimas que descrevem os efeitos do alegado comportamento do casal sem identificar incidentes específicos”.
No entanto, mesmo sem identificar fontes ou apresentar provas que sustentassem a denúncia, a missão de descredibilizar a ex-actriz foi conseguida. O casal, através de um porta-voz, descreveu o artigo como parte de uma “campanha de difamação” destinada a prejudicar a sua reputação antes da entrevista com Oprah e que angariou, nas redes sociais, uma horda a defender a honra da família real e a atacar, sem filtro, uma mulher grávida, num comportamento inaceitável como considerou a colunista do The Guardian Marina Hyde: “Por mais ridículo que seja o que Meghan e Harry façam – e frequentemente é ridículo – nunca, nunca será sequer um centésimo tão ridículo como o comportamento daqueles que espumam da boca por isso.”
Mas o que interessa a opinião dos ingleses? Ao jovem casal, a residir na Califórnia desde há um ano, rigorosamente nada. Interessa-lhes, no entanto, a “almofada” de aceitação (e de protecção) que a entrevista lhes pode proporcionar junto de quem influencia a opinião pública americana, num país em que o título do programa era Oprah com Meghan e Harry: Um Especial CBS, e só por aqui se percebe a ordem de importância de cada um dos intervenientes nos Estados Unidos.
Depois, como em muitos aspectos, o dinheiro tem o seu peso. E serão os americanos, e não os britânicos, que poderão vir a ser determinantes para o sucesso dos projectos de Harry e Meghan, aqueles que lhes irão pagar as contas, dos mais mediáticos, como os que assentam nos acordos com a Netflix ou com o Spotify, à fundação de solidariedade que criaram já em solo americano, a Archewell.