EDP quer lucrar mais 400 milhões em cinco anos rumo à neutralidade carbónica
A empresa tem planos para investir 24 mil milhões de euros até 2025 e espera que o resultado líquido suba dos 801 milhões de 2020 para 1,2 mil milhões durante esse período.
Dizer adeus ao carvão e ao gás natural, são prioridades na agenda da EDP para a próxima década. Há “um movimento generalizado na sociedade para fazer face ao desafio de ter um mundo mais sustentável” e, na EDP, há “uma estratégia clara e ambiciosa” totalmente alinhada com essa realidade, garantiu o presidente executivo da empresa, Miguel Stilwell de Andrade, que apresentou esta quinta-feira os principais eixos de actuação do grupo para os próximos anos.
Na calha até 2025 estão planos para investimentos de 24 mil milhões de euros (80% em renováveis, 15% em redes energéticas e 5% em soluções para clientes e para gestão de energia) e uma meta para atingir lucros de 1,2 mil milhões de euros por essa data (que compara com os 801 milhões em 2020).
Como nos últimos anos, as renováveis continuam a ser a aposta (privilegiando-se a venda de energia através de contratos de longo prazo, com receitas seguras), mas o ritmo de crescimento é para acelerar: a empresa quer passar de uma produção renovável actual de 74% para 100% em 2030, atingindo a meta de neutralidade carbónica 20 anos antes do previsto.
Para isso, até 2025, a promessa é a de instalar em média 4 gigawatts (GW) de potência por ano (mais 20 GW desenvolvidos até 2025), o que inclui duplicar a capacidade de produção solar e eólica.
Até essa data, estarão encerradas todas as centrais a carvão e, mais tarde, para cumprir os objectivos de neutralidade carbónica até ao final da década, a EDP irá deixar de consolidar as centrais de ciclo combinado a gás natural.
Os detalhes ainda estão em aberto, podem ser vendas, podem ser parcerias, mas o gás natural deixará de entrar para as contas e para o mix de tecnologias da EDP, “de uma forma ou de outra”, assegurou o presidente da empresa, acompanhado na apresentação pelo administrador financeiro, Rui Teixeira.
“Somos e queremos continuar a ser líderes na transição energética”, afirmou Stilwell, adiantando que o reforço nas renováveis implicará um investimento de mais de 19 mil milhões de euros que continuará a ser financiado por estratégias que não são novidade para o grupo.
“O crescimento e a rotação de activos andam de mãos dadas”, assinalou Rui Teixeira, explicando que o plano passa por fazer oito mil milhões de euros com a venda de participações maioritárias em parques eólicos para ajudar a financiar novos investimentos.
No Brasil, há a expectativa de conseguir cerca de mil milhões de euros com a venda de barragens, algumas detidas em parceria com o accionista chinês China Three Gorges, com o qual “as conversas já começaram” para concretizar essa meta.
Segundo Miguel Stilwell, o objectivo é manter o peso do Brasil no resultado operacional abaixo dos 20%. Já a Europa e a América do Norte (e em particular os Estados Unidos, onde a estratégia pro-renováveis da nova Administração Biden casa com as ambições da EDP e onde a empresa também quer desenvolver soluções de armazenamento energético) deverão pesar 80% no EBITDA.
Em 2025, a empresa quer que o EBITDA seja de 4,7 mil milhões de euros, acima dos 3,6 mil milhões de 2020, ajudado por uma redução de custos operacionais em torno de 100 milhões de euros.
E se em 2017 a EDP avançou com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a EDP Renováveis para tirá-la de bolsa, neste momento a gestão da eléctrica até entende que “é positivo ter a Renováveis cotada, dado todo o investimento previsto” e a promessa de “manter os rácios de endividamento em níveis perfeitamente controlados”.
Para conseguir “dinheiro fresco” para o plano de investimento em tecnologias limpas, a EDP também está a ponderar um aumento de capital da EDP Renováveis, de cerca de 1,5 mil milhões de euros, destinado exclusivamente a investidores institucionais.
Com mais liquidez em bolsa, a EDP Renováveis (que em 2020 registou um aumento de lucros de 17%, para 556 milhões de euros) tornar-se-ia um instrumento de financiamento. A EDP manteria total controlo, com Stilwell a admitir que, se a operação for em frente, a empresa se mantenha “acima dos 70%” no capital (actualmente tem 83%).
Para os dividendos, a EDP mantém, por agora, “o chão” dos 19 cêntimos por acção, mas não descarta rever em alta a política de remuneração em função do que vierem a ser os resultados.
Tal como a casa-mãe, a Renováveis também tem Stilwell na liderança e Rui Teixeira no pelouro financeiro, um alinhamento que o novo líder da EDP (que já estava no cargo como interino desde Julho, mas iniciou mandato em Janeiro) considerou um dos trunfos de uma equipa de “gestão ágil”, reduzida a cinco elementos (além de Miguel Stilwell e Rui Teixeira, conta com Miguel Setas, Vera Pinto Pereira e Ana Paula Marques).