Panteão e museus Soares dos Reis, Machado de Castro, Frei Manuel do Cenáculo e Conímbriga têm novos directores
Depois de muitos atrasos no lançamento dos concursos, conhece-se agora a primeira leva de dirigentes para um conjunto de museus, monumentos e palácios da Direcção-Geral do Património Cultural. Até ao final de Maio haverá mais.
A ministra da Cultura já o garantira em entrevista ao PÚBLICO no final da semana passada e agora confirma-se: vários museus, palácios e monumentos do universo da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) passarão a contar com novos directores em Abril. Noutros casos, mantêm-se em funções os actuais titulares dos cargos.
De acordo com a informação avançada de manhã pelo PÚBLICO e confirmada pela DGPC ao início da tarde, Dalila Rodrigues mantém-se no Mosteiro dos Jerónimos/Torre de Belém, e também permanecem nos seus lugares António Carvalho, no Museu Nacional de Arqueologia, José Alberto Ribeiro, no Palácio Nacional da Ajuda/Museu do Tesouro Real, e Odete Paiva, no Museu Nacional Grão Vasco.
Entre os novos directores estão Lurdes Craveiro, que assumirá a direcção do Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra), António Ponte, actual director regional de Cultura do Norte, que ficará com a do Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), Santiago Macias, que passará a dirigir o Panteão Nacional (Lisboa), Sandra Leandro, que chegará ao Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo (Évora), e Vítor Dias, que se encarregará do Museu Monográfico de Conímbriga (Condeixa-a-Velha).
Os concursos internacionais para as direcções destes serviços, entre os quais se contam muitos dos mais importantes museus e monumentos do país, foram sendo sucessivamente adiados. A primeira fase dos concursos, abrangendo os nove equipamentos cujos directores agora se conhecem, foi lançada a 29 de Maio. Na segunda leva de concursos, lançada a 19 de Junho, foram abrangidos o Mosteiro de Alcobaça, o Palácio Nacional de Mafra, os museus nacionais do Teatro e da Dança, do Traje, da Música, do Azulejo e dos Coches (e do seu anexo em Vila Viçosa), e ainda os binómios compostos por Museu do Chiado/Museu Nacional de Arte Contemporânea e Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, e Museu Nacional de Etnologia e Museu de Arte Popular. A terceira e última fase visou apenas o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade (Peniche) e abriu a 16 de Novembro. De fora ficaram ainda o Mosteiro da Batalha, o Museu Nacional de Arte Antiga e o Convento de Cristo, em Tomar.
Para os museus, palácios e monumentos abrangidos pela segunda e terceira fases dos concursos internacionais, o tempo ainda é de espera. Ainda não foram sequer divulgadas as listas provisórias com os candidatos admitidos e excluídos neste processo lançado a 19 de Junho e prorrogado em Agosto.
Na entrevista ao PÚBLICO já citada, a ministra Graça Fonseca disse ainda que em Maio haveria mais novidades em relação às direcções dos serviços dependentes da DGPC. Isto não significa, no entanto, que o próximo nome conhecido se refira a um museu ou monumento da segunda fase dos concursos, explicou agora fonte da assessoria de imprensa da direcção-geral: “Deu-se o caso de a leva agora anunciada coincidir com as direcções dos equipamentos do primeiro anúncio de abertura de concurso, mas podia não ter sido assim. O objectivo é ir divulgando à medida que os concursos estiverem concluídos. Se for por atacado, divulga-se por atacado. É o primeiro concurso internacional da DGPC, é um processo demorado, complexo, ainda mais quando a pandemia impede os júris de se reunirem presencialmente e os procedimentos legais exigem actas assinadas por todos os membros.”Os primeiros
Todos os directores destes serviços, cujos nomes estavam já escolhidos há várias semanas, serão chamados a lidar com os desafios impostos pela pandemia de covid-19. À quebra de receita directamente ligada à descida abrupta do número de visitantes ditada pelos períodos de confinamento e de limitações ao número de visitantes e aos fluxos turísticos, juntam-se os habituais problemas de infra-estruturas e de equipamentos (os sistemas de ar condicionado cronicamente avariados, por exemplo), assim como as falhas nos quadros de pessoal, que nos últimos anos têm vindo a perder muitos técnicos sem que a tutela tenha tido autorização para os substituir.
Recorde-se que os primeiros concursos foram lançados em Maio, praticamente um ano depois de o novo regime de autonomia de gestão dos museus, palácios e monumentos que levou à sua criação ter entrado em vigor (Junho de 2019). E quando já em Outubro de 2019 metade dos directores destes serviços da DGPC estava em regime de substituição, alguns deles há anos.
Os nomes novos
A nova directora do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, Sandra Leandro, 50 anos, é investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e lecciona na Universidade de Évora desde 2001. Tem-se dedicado sobretudo ao estudo da pintura e do desenho humorístico, da museologia e do trabalho das mulheres artistas em Portugal.
De regresso a um museu onde já trabalhou entre 1985 e 1988, o Machado de Castro, está Lurdes Craveiro, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigadora principal do Grupo de Estudos Multidisciplinares em Arte. Com 63 anos, tem um percurso reconhecido na cidade também fora dos muros da universidade: ligada ao património arquitectónico, ajudou a promover a defesa da reabilitação do Colégio da Trindade, do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e da Sé Velha.
No Museu Monográfico de Conímbriga, o arqueólogo Vítor Dias, 48 anos, estará no seu habitat. Doutorado em Arqueologia e estudioso da presença romana na Península Ibérica e colaborador do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, escavou, por exemplo, na cidade de Balsa, em Tavira.
Ao fim de oito anos, António Ponte, 50 anos, troca agora a chefia da Direcção Regional de Cultura do Norte pelo Soares dos Reis, onde até aqui Ana Mântua assumia a direcção em regime de substituição. Doutorado em museologia pela Faculdade de Letras do Porto, foi ainda director do Paço dos Duques de Guimarães durante três anos (2009-2012).
Formado em História de Arte, professor na Universidade Nova de Lisboa e investigador do Campo Arqueológico de Mértola, o novo director do Panteão Nacional é, talvez, uma das maiores surpresas entre estas nomeações, já que a sua área de trabalho privilegiada tem sido a presença islâmica em Portugal. Santiago Macias, de 57 anos, que há mais de duas décadas conduz as escavações no Castelo de Moura, tem comissariado também várias exposições, incluindo a actual Guerreiros e Mártires, no Museu Nacional de Arte Antiga.