Sim, o Benfica sofreu com a covid-19. Mas não foi o único
Jorge Jesus insiste que o novo coronavírus é a fonte de todos os males “encarnados” nesta época. Terá razão? Sim e não.
Ninguém tem responsabilidades, disse Jorge Jesus nesta quarta-feira, acerca da crise de resultados que o Benfica está a viver. Nem ele próprio, nem os jogadores, nem o presidente Luís Filipe Vieira, nem a restante estrutura do futebol. A fonte de todos os males, reforçou o técnico, foi o surto de covid-19 que atingiu o futebol benfiquista de cima a baixo e que o deixou sem recursos para ser competitivo. Será essa a única razão para a época que o Benfica está a fazer? Provavelmente, não. Mas centremo-nos nas explicações de Jesus, que focaram somente o novo coronavírus.
Sim, o surto de covid-19 ajuda a explicar a má temporada do Benfica e Janeiro foi, de facto, um mês crítico. Mas o novo coronavírus poupou os “encarnados” na pré-temporada e nos primeiros meses de 2020-21. Jesus foi apresentado no início de Agosto e o primeiro caso positivo aconteceu apenas a meio de Setembro, com pouco impacto no plantel principal (Svilar, o terceiro na hierarquia de guarda-redes), só voltando a ter mais quatro casos a meio de Novembro (Weigl, Darwin, Taarabt e Daniel dos Anjos). Neste período, os “encarnados” já tinham perdido o comboio da Liga dos Campeões (derrota com o PAOK) e dado sinais de fragilidade na I Liga (desaires consecutivos com Boavista e Sp. Braga).
Enquanto o Benfica ainda parecia razoavelmente imune à pandemia, o Sporting, por exemplo, já tinha tido múltiplos casos, incluindo o próprio Rúben Amorim. Sem jogadores importantes como Pedro Gonçalves, Palhinha ou Nuno Santos, os “leões” aguentaram-se em Setembro, mas, mesmo já com Amorim no banco, saíram da Liga Europa, com uma derrota diante do LASK Linz. Depois da epidemia inicial, os “leões” tiveram apenas mais quatro casos entre os jogadores (Plata, Neto, Mendes e Sporar, sendo estes dois últimos os “falsos positivos” que tanta polémica geraram).
Já o FC Porto, também passou relativamente imune à covid-19 em 2020 (apenas um jogador, Loum), enquanto o Sp. Braga teve cinco casos entre o final de 2020 e o início de 2021 (Fransérgio, Tormena, Castro, Bruno Viana e David Carmo), com a particularidade de terem sido quase todos no sector defensivo. Os “dragões” tiveram um surto de grandes dimensões em Janeiro, com mais nove jogadores afectados, mas nem foi dos piores meses para a equipa de Sérgio Conceição, que sofrera bem mais em Setembro e Outubro (em que perdeu oito pontos no campeonato) do que em Janeiro (apenas um empate, com o Benfica, para além da derrota na Taça da Liga). Bem pior foram os três empates consecutivos para o campeonato, já neste mês.
Na Luz, já depois do fracasso na Supertaça, os casos voltaram a “atacar” no final de Dezembro de 2020. Para a 11.ª jornada, frente ao Portimonense, Jesus não pôde contar com cinco jogadores infectados (Pizzi, Jardel, Ramos, Ferreira e Seferovic). O número manteve-se para a jornada seguinte, a primeira de 2021, com a troca do “negativo” Pizzi pelo “positivo” Gabriel, e desceu para apenas dois (Gabriel e Cervi) na ronda seguinte, sendo que a equipa até estava bastante composta na visita ao Dragão, a 15 de Janeiro.
Jesus até ficou satisfeito com a exibição da equipa no empate (1-1) em casa do FC Porto, um jogo após o qual a pandemia atacou em força os “encarnados”. Incluindo esse “clássico” da 14.ª jornada, o Benfica perdeu dez pontos. Depois, com o surto que atingiu dez jogadores (Waldschmidt, Gilberto, Vertonghen, Grimaldo, Gonçalves, Nuno Tavares, Otamendi, Helton, Vlachodimos e Everton), Jorge Jesus e parte da equipa técnica, staff médico e o próprio Luís Filipe Vieira, as “águias” perderam mais 11 pontos nas seis jornadas seguintes (quatro empates, uma derrota e apenas um triunfo).
A partir da jornada 17 (com o Vitória), deixou de haver “positivos” no plantel, e o próprio Jesus regressou na ronda seguinte (Famalicão), mas os estragos da pandemia, segundo o técnico, continuam a fazer-se sentir. Porquê? Porque, defende Jorge Jesus, os jogadores ainda vão demorar a recuperar a plena forma, tendo dado como exemplo um desabafo de Pizzi no final do primeiro jogo pós-covid. Uma confissão que o próprio médio admitiu, na conferência de imprensa de lançamento do jogo com o Arsenal: “Quando voltei não me sentia o mesmo, tinha dificuldades em recuperar, sentia-me mais cansado”.