Novo presidente da Galp: “Não podemos ter medo de fazer escolhas difíceis”

O novo presidente executivo da empresa, Andy Brown, promete para Maio uma “clarificação da estratégia” da empresa, porque “não se pode fazer tudo”. O gestor diz que é o petróleo que dá à Galp “a plataforma” para fazer a transição energética mais depressa do que as concorrentes.

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Nuno Ferreira Santos

Na primeira conferência telefónica com analistas enquanto presidente da Galp, o novo líder executivo (CEO) da petrolífera, Andy Brown, explicou que a sua “primeira prioridade para a Galp é definir um rumo estratégico” para a empresa.

O antigo gestor executivo da Shell, que há poucas semanas substituiu Carlos Gomes da Silva na liderança da petrolífera controlada pela família Amorim, diz que encontrou uma empresa com activos petrolíferos valiosos, com uma boa marca e com actividades de refinação e comercial sólidas na Península Ibérica, e com grande ambição nas renováveis.

“Agora precisamos de clarificar a nossa estratégia e não podemos ter medo de tomar decisões difíceis”, afirmou Brown. Essa clarificação ficou prometida pelo novo presidente da Galp para Maio, para o encontro anual da empresa com investidores e analistas financeiros, no Capital Markets Day.

“Temos de fazer escolhas difíceis, temos de ser muito claros no que queremos, porque não nos podemos dar ao luxo de fazer tudo; é essa clarificação que acho que temos de ter em Maio”, reafirmou.

A promessa, para já, é a de acelerar na transição para tecnologias de baixo carbono, continuando a ser “uma boa oportunidade de investimento”.

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No encontro remoto com analistas que se seguiu à apresentação dos resultados de 2020 – em que a petrolífera registou um prejuízo de 42 milhões de euros devido aos impactos da crise pandémica – Andy Brown admitiu que a refinaria de Sines “é uma das grandes questões estratégicas”.

Questionado por um dos analistas sobre se Sines continuará a ser rentável num futuro próximo, o gestor salientou que, embora Sines seja mais rentável do que a refinaria de Matosinhos - que a empresa já decidiu encerrar -, “o mundo está a mudar”.

É preciso reconhecer que a procura de combustíveis líquidos vai diminuir no futuro e é preciso perceber como Sines encaixa num mercado com essas condições e que nível de investimento será apropriado, referiu. “São grandes questões para o futuro”, diz o novo presidente da Galp.

Sobre Matosinhos, o novo presidente da Galp diz que o mais importante agora é “ter um bom plano para as pessoas” e saber como se pode “descomissionar e descontaminar” de forma responsável. O futuro das instalações logo se verá.

Em Maio, quando desvendar os eixos da estratégia, Brown também irá apresentar novidades sobre a política de remuneração.

Explicando que os níveis de produção de petróleo estimados para este ano e o dividendo previsto (50 cêntimos, menos que os 70 cêntimos de 2019, mas mais que os 35 cêntimos de 2020) são um sinal de “prudência”, de quem acha que 2021 “vai ser um ano difícil” e que ainda não vê “um verdadeiro sinal de retoma”, Andy Brown destacou que a “grande ambição” da Galp nas renováveis vai continuar a ser suportada “por uma sólida” actividade de exploração e produção de petróleo.

Para a Galp (que está a trabalhar com um cenário de barril de petróleo a 50 dólares e um custo de produção de três dólares por barril), são esses os activos que “criam a plataforma para fazer uma transição [energética] de forma efectiva à frente dos concorrentes”. A Galp tem “activos invejáveis” no pré-sal brasileiro e em Moçambique, sublinhou.

Com investimentos previstos entre 500 e 700 milhões de euros em 2021, os destaques serão o arranque de mais um projecto de exploração no Brasil (Bacalhau) e o reforço do portefólio de solar.

A petrolífera quer ter 1,2 Gigawatt (GW) de potência renovável instalada no final do ano e já tem em fase inicial (com terrenos e garantia de ligação à rede) uma carteira de projectos no total de 3,7 GW, com a meta de atingir 10 GW em 2030.

Lembrando que há pouco mais de um ano, nada disto existia, Andy Brown afirmou que a Galp “é claramente uma companhia que pode fazer mudanças rapidamente”.

Por outro lado, referindo que espera trazer à empresa características como “espírito de equipa” e “o foco certo em inovação”, Brown disse aos analistas que quer “pegar numa superequipa e levá-la para o próximo nível”: “Vamos fazer desta uma empresa verdadeiramente dinâmica”.

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