Os opostos atraem-se? “É um mito”, garantem as especialistas

Os opostos até se podem atrair “em certas características de personalidade diferentes”, mas “com valores de vida diferentes” nunca poderá resultar.

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Pode ser uma mais-valia os elementos do casal serem diferentes em algumas características complementares Unsplash/Everton Vila

Quantas vezes já ouviu a expressão “os opostos atraem-se”? É um mito ou será que pessoas com características opostas se atraem efectivamente? “É complexo”, respondem as especialistas ouvidas pelo PÚBLICO, mas ambas concordam que — salvo raras excepções — a ideia é um mito.

As ideias de que os opostos se atraem é uma das muitas premissas enraizadas sobre o amor. Mas “as relações não são lineares”, avisa a psicóloga e sexóloga Tânia Graça. Ainda que não sejam lineares, Joana Almeida, membro da direcção da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, garante que, “em termos estatísticos” são as pessoas “semelhantes que se atraem”.

Enquanto Joana Almeida não tem dúvidas que esta ideia é um mito, Tânia Graça diz que até pode ter “um quê de verdade”, mas, a longo prazo, garante que os opostos não poderão viver numa relação feliz e saudável.

É natural que quando inicia uma nova relação, o casal não se aperceba de imediato que é muito diferente. Porquê? “Na fase de enamoramento, tendemos a criar uma fusão e a mostrar de nós só o que é melhor para a outra pessoa”, responde Tânia Graça, acrescentando que “a nossa tendência é romantizar as características que não gostamos tanto”. A “real compatibilidade” só é percebida depois da convivência e o que se podia achar “querido” no início da relação, torna-se um factor de stress.

Com isto, não quer dizer que o par tenha de ser iguais em tudo — aliás, pelo contrário, explicam Tânia Graça e Joana Almeida. As especialistas consideram uma mais-valia os elementos do casal serem diferentes em algumas características que, “sendo opostas, se podem complementar”. Por exemplo, alguém muito impulsivo pode beneficiar de ter ao seu lado uma pessoa mais ponderada e calma.

Embora seja importante perceber a compatibilidade e “racionalizar ao máximo”, a sexóloga Tânia Graça assegura que é fundamental aproveitar cada fase da relação. Até porque as pessoas vão mudando ao longo da relação. “O facto de uma relação terminar, não quer dizer que não tenha sido amor. Não é a durabilidade que define o amor”, observa.

Características impossíveis de ultrapassar

Se é interessante ter alguns traços de personalidade diferentes, mas complementares, os opostos em valores e convicções não se atraem, nem constituem relações saudáveis e duradouras, asseguram Joana Almeida e Tânia Graça.

“As diferenças podem tornar-se factores de stress”, explica a psicóloga da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Neste caso, podem ser diferenças com valores de base como a religião, convicções políticas, justiça social ou igualdade de género. “Se tiverem visões diferentes, é mais fácil haver conflitos ou diferenças que se tornem distâncias nas pessoas”, alerta Joana Almeida.

Os “valores e atitudes que nos definem” devem ser semelhantes no casal. “A semelhança facilita a relação e o bem-estar”, analisa a especialista em sexologia clínica. Joana Almeida exemplifica uma “fonte de conflitos muito comum” — a divisão de tarefas. Se um dos membros do casal foi criado no modelo tradicional, em que era mulher a fazer tudo em casa, e o outro numa casa onde se partilhavam as tarefas, “o casal provavelmente terá muitas dificuldades”.

Tânia Graça exemplifica também com a percepção sobre a igualdade de género. Num casal heterossexual, se a mulher defende o empoderamento feminino, dificilmente conseguirá partilhar a vida com “uma pessoa que use a masculinidade como algo que lhe dá poder”. A sexóloga conclui então que os opostos até se podem atrair “em certas características de personalidade diferentes”, mas nunca “com valores de vida diferentes”.

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