Exportações de bens voltam a fraquejar em Dezembro

Vendas de bens ao estrangeiro concluem com tendência negativa um ano que, por causa dos efeitos da pandemia, foi o pior para o comércio internacional português desde a crise financeira de 2009.

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Rui Gaudencio

Depois de terem regressado, entre Setembro e Novembro, a níveis semelhantes aos que se verificavam antes da crise, as exportações de bens portuguesas voltaram a fraquejar no último mês do ano passado, concluindo com uma tendência negativa um ano que foi o pior desde a crise financeira internacional de 2009.

De acordo com os dados do comércio internacional publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as exportações de bens portuguesas registaram, no passado mês de Dezembro, uma diminuição face ao período homólogo do ano anterior de 7,8%. Este é o pior resultado desde Junho e compara com a descida de apenas 0,2% que se tinha registado em Novembro.

As exportações de bens, depois de terem caído a pique no início da pandemia, com uma queda máxima de 41,3% em Abril, apresentaram, principalmente a partir de Julho, uma tendência de retoma. À medida que as economias dos parceiros comerciais de Portugal voltaram a crescer, as exportações foram regressando a níveis próximos dos registados antes da crise. Em Setembro, o valor das exportações de bens foi mesmo 0,3% superior ao que se tinha verificado no mesmo mês de 2019.

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Em Dezembro, essa tendência de melhoria não se prolongou, algo que poderá estar associado ao facto de diversas economias em todo o mundo, afectadas pela nova vaga da pandemia, terem também recuado no final de 2020.

No conjunto do ano de 2020, as exportações diminuíram 10,2%. Uma descida neste indicador já não acontecia desde 2009, um ano em que a crise financeira internacional afectou de forma muito acentuada os fluxos comerciais em todo o mundo e que resultou numa queda de 18,4% nas vendas de bens nacionais para o estrangeiro.

Do lado das importações de bens, que em Outubro e Novembro tinham caído mais de 11%, verificou-se em Dezembro uma ligeira recuperação, com a variação homóloga negativa a cifrar-se em 6,9%. No total do ano, as importações de bens portuguesas caíram 15,2%, também a descida mais acentuada desde 2009.

Para além do efeito negativo da quebra do consumo em Portugal, a entrada de produtos no país tem vindo a ser afectada pelas dificuldades registadas no transporte de bens, nomeadamente pela falta de contentores nas operações portuária. Isso tem prejudicado principalmente as importações, mas pode também afectar as exportações, já que parte dos bens importados são usados como componentes na produção da indústria portuguesa.

O facto de, em 2020, a queda das importações de bens (15,2%) ter sido superior à queda das exportações (10,2%) levou a que se registasse durante o ano passado uma melhoria do saldo da balança comercial de bens portuguesa. O défice diminuiu de 20.075 milhões de euros para 14.051 milhões.

De notar, contudo, que no comércio de serviços (para os quais não são ainda conhecidos os dados finais de 2020), a evolução do saldo poderá ter sido negativa. A balança comercial de serviços, que tem sido positiva para Portugal nos últimos anos, inclui as despesas realizadas pelos turistas em Portugal e foi particularmente afectada pela pandemia.

No comércio de bens, a queda das exportações portuguesas registou-se, no decorrer do ano de 2020, em praticamente todos os produtos, destacando-se em particular o desempenho dos combustíveis e lubrificantes (queda de 32,1%) e dos materiais de transporte (queda de 17,3%). Também foi nestes bens que a diminuição das importações foi mais acentuada.

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