Bombons Amor-Perfeito: chocolates com alma, coração e ao gosto do freguês
É a partir do lugar da Vista Alegre, em Ílhavo, que Armanda Lourenço produz os seus Bombons Amor-Perfeito. Com uma grande variedade de recheios, tamanhos ou formas. Os desejos do cliente são uma ordem.
Na vitrine repousam apenas alguns exemplares de bombons, tabletes, sardinhas e uma ou outra escultura de chocolate. O grande foco da casa é o trabalho sob encomenda, com produção ao gosto do freguês. Na Amor-Perfeito, tudo é costumizável, seja no sabor ou nas formas, e 100% artesanal. Ao leme desta pequena chocolataria situada na Vista Alegre, em Ílhavo, está Armanda Lourenço, apoiada, nas horas livres, pelo homem com o qual vive, há quase 37 anos, um amor mais que perfeito. Uma mulher que se fez marketeer e mestre chocolateira já depois dos 40 anos. Aos 56, tem planos para fazer crescer o negócio, mas apenas qualitativamente, uma vez que não lhe agrada nada produzir em série.
A culpa deve ser da atenção e cunho pessoal que Armanda Lourenço parece dedicar a cada encomenda. Gosta de criar, de corresponder às expectativas dos clientes, alguns dos quais já passaram a ser amigos, garante. Na Bombons Amor-Perfeito torna quase tudo possível. Bombons de chocolate negro, de leite ou branco, sem ou com recheio, mediante uma escolha que se torna difícil: as opções vão desde os frutos vermelhos crocantes ao caramelo salgado, passando pelo café, baunilha e chocolate, avelãs ou amêndoas, entre outros.
Aos bombons, que podem ter as mais variadas formas e decorações, junta também as propostas das tabletes (também elas personalizáveis), das sardinhas de chocolate e dos crocantes (com arroz tufado), que são um dos best-sellers da casa. E para aqueles que precisarem de uma dose extra de chocolate na sua oferta, a Amor-Perfeito disponibiliza caixas para bombons feitas em chocolate. Basta escolher o modelo, o tipo de chocolate e enchê-las com os seus bombons favoritos.
Às propostas e modelos predefinidos, Armanda Lourenço tem somado umas quantas experiências a satisfazer os desejos dos clientes, com desafios que a obrigam a desafiar-se a ela própria. “Uma vez, uma cliente pediu-me para fazer uma mota com um sidecar em chocolate para oferecer ao marido”, exemplifica. Outra vez, teve que fazer um bolo de aniversário em chocolate, e noutra teve que fazer uma caixa de chocolate com uma placa, no interior, a dizer: “Desculpa não ser uma grade minis”. A vontade do freguês é que manda, ainda que haja pedidos aos quais Armanda Lourenço diz não. “Chegaram a pedir-me formas eróticas, mas não faço”, adverte.
Armanda Lourenço gosta de ser desafiada pelos clientes. “Há coisas que demoro dias a fazer, mas é isso que me dá gosto. É tudo feito manualmente, como se estivesse a fazer uma escultura”, declara a mestre chocolateira. Ao trabalho manual dos chocolates, junta-se uma outra arte artesanal: a construção das embalagens de papel que acompanham os produtos feitos na casa. São todas feitas pelo seu marido, Joaquim Lourenço, parceiro de vida e grande impulsionador do negócio. “Ele tem muita habilidade para as caixas e está sempre a impulsionar-me a fazer coisas novas com os chocolates”, reconhece.
Criar o próprio emprego
A ligação de Armanda Lourenço ao chocolate surgiu da necessidade de criar o seu próprio emprego, depois de duas décadas a trabalhar na Vista Alegre e umas curtas experiências noutros sectores de actividade. Na reconhecida fábrica de porcelanas teve a oportunidade de passar por vários serviços e departamentos, mas o que lhe deixou melhores memórias foi o departamento de Marketing. “Adorei ajudar na preparação dos catálogos, do showroom, a criação da página de Internet”, confessa.
Gostou tanto de trabalhar nesta área que decidiu voltar à escola, durante a noite, até fazer uma licenciatura em Marketing. A morte prematura da mãe tinha-a levado a interromper os estudos aos 14 anos, para ajudar a criar a irmã mais nova, mas a ideia de voltar à escola ficou sempre lá. “Aproveitei as Novas Oportunidades e consegui concluir o 9.º ano. Depois, fui fazer os 10.º, 11.º e o 12.º à noite e como as notas eram muito boas fui incentivada a tirar um curso superior”, recorda. Armanda Lourenço aproveitou os conselhos e foi tirar a licenciatura de Marketing no ISCA-UA (Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro), durante a noite. “Terminei com 46 anos. Não foi com uma grande média, mas consegui”, realça, com orgulho.
Em 2010, decidiu sair da Vista Alegre e partir à descoberta de uma nova carreira. Ainda passou pela área comercial, nomeadamente no sector imobiliário e no automóvel, mas não se sentiu realizada. Como é uma mulher de fé, procurou respostas junto de Deus. “Como eu já ia fazendo bombons para oferecer a amigos, a ideia surgiu e foi ganhando força”, refere.
Aproveitou os conhecimentos adquiridos no curso de Marketing, fez um plano de negócios e, em 2012, lançou-se por conta própria, criando os Bombons Amor-Perfeito. “Toda a aprendizagem do curso serviu para eu analisar o mercado, ver o que poderia fazer e inovar”, declara. É caso para dizer que o instinto de marketeer revelou-se antes do gosto pela arte de trabalhar o chocolate. “Eu nem era grande apreciadora de chocolate, por incrível que pareça. Este dom nasceu mesmo da necessidade, da vontade e da graça de Deus”, afiança.
Ainda que admita ter “jeito de mãos”, Armanda Lourenço não esconde que precisou de estudar e investigar muito para conseguir fazer bons chocolates. “Fiz vários cursos e formações para conseguir ter um bom produto”, destaca. A esta aposta bastou, depois, juntar a “selecção de matéria-prima de qualidade”. O resulto final? Tabletes e bombons que nos conquistam pelos olhos e pelo paladar.
Apesar de se sentir orgulhosa do percurso que a Bombons Amor-Perfeito conseguiu trilhar nestes poucos anos de existência, Armanda Lourenço tem planos para ir mais além. “Gostava de fazer o processo bean-to-bar”, projecta. Nos últimos tempos, tem já dedicado parte dos seus estudos e pesquisas a este processo, “mas como as máquinas são caras”, ainda é preciso analisar bem o investimento. Armanda Lourenço confessa que também gostava de ter uma pequena loja “na zona histórica da Vista Alegre” – neste momento, trabalha e vende a partir de uma pequena oficina localizada na sua casa.