Nova petição junta autarcas e ex-ministros contra fim dos brasões na Praça do Império
Abaixo-assinado acusa Câmara de Lisboa de promover “lastimável talibanismo cultural” e de ter uma “infantil obsessão ideológica”.
Foi lançada uma nova petição contra a retirada dos brasões florais do jardim da Praça do Império, em Belém. Promovida pela associação Nova Portugalidade, conta com as assinaturas do antigo presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues, e de dois ex-ministros, António Barreto e Bagão Félix.
Os brasões florais das capitais de distrito, das ilhas e das ex-colónias portuguesas que adornam o jardim da Praça do Império desde os anos 60 têm estado envoltos numa grande controvérsia desde que a câmara anunciou, em 2014, a intenção de os retirar dali. Há muito que os brasões são ilegíveis, por falta de manutenção.
Na petição, os signatários acusam a câmara de “lastimável talibanismo cultural” por ter encomendado um projecto de reabilitação do jardim “com o propósito claro, indisfarçável e puramente ideológico de remover os brasões, em particular os que aludem ao antigo Ultramar português”.
“As alterações que a câmara pretende impor à Praça do Império em nada virão a enriquecê-la. Infelizmente, para mal da nossa Lisboa, os promotores do projecto não compreenderam o espírito do espaço, e muito menos o que ela representa – para a cidade, para Portugal e para o Mundo”, pode ler-se.
Criticando a “infantil obsessão ideológica” do executivo de Fernando Medina, a petição argumenta que “a campanha em curso contra a Praça do Império se enquadra numa muito mais vasta cujo alvo é a História em si”, cujo objectivo “é o apossamento autoritário do passado por uma clique arrogante e minoritária”.
Os signatários criticam todos os passos da autarquia neste processo, desde que o vereador dos Espaços Verdes, Sá Fernandes, anunciou o fim dos brasões até à escolha do projecto a implementar, do atelier ACB, dirigido por Cristina Castel-Branco.
A proposta da arquitecta paisagista é a de retomar o desenho original da Praça do Império, que foi construída para a Exposição do Mundo Português de 1940 e projectada por Vasco Lacerda Marques e Cottinelli Telmo. Está prevista a substituição do canteiro ajardinado em redor do lago por calçada à portuguesa e a plantação de quatro conjuntos de árvores nos cantos da parte inferior da praça.
Os taludes onde hoje existem os brasões serão relvados e acessíveis, será recuperado um roseiral no topo norte e é aí também que vai nascer o jardim de plantas dos Jerónimos, que replicará ao vivo as representações feitas em pedra nas paredes do mosteiro. A sul, deixa de existir uma rua paralela à Avenida da Índia para permitir o alargamento do passeio.
Os subscritores da petição sustentam que este projecto não deve ser concretizado e que, em vez disso, se deve “promover um projecto de reabilitação que não preveja alterações formais e conceptuais, valorizando toda a estrutura existente e preservando-a integralmente para o futuro, incluindo todos os brasões florais”.
O primeiro signatário da petição é o presidente da associação Nova Portugalidade, Rafael Pinto Borges, que já em 2016 levara um abaixo-assinado com 1896 assinaturas à Assembleia Municipal de Lisboa visando o mesmo objectivo. Esta petição conta com 2215 assinaturas no momento de publicação deste artigo. É improvável, contudo, que venha a ter um efeito prático, uma vez que o contrato para a obra já foi adjudicado.
Na lista das primeiras assinaturas contam-se a de dois deputados (Telmo Correia, do CDS, e Paulo Neves, do PSD), do presidente da Junta de Belém, Fernando Ribeiro Rosa, e do presidente da Junta da Estrela e presidente da concelhia do PSD, Luís Newton. Os deputados municipais Aline de Beuvink (PPM), Diogo Moura (CDS), José Inácio Faria (MPT) e Rodrigo Mello Gonçalves (independente) também assinaram. Dom Duarte de Bragança é outro dos subscritores.
Notícia actualizada: Uma versão anterior dizia que Santana Lopes, ex-presidente da Câmara de Lisboa, era um dos proponentes da petição, mas o seu nome desapareceu entretanto da página do abaixo-assinado