Marisa Matias: “Se a esquerda não somou mais nesta eleição a culpa é do PS”
A candidata Marisa Matias ficou muito aquém do resultado que tinha conseguido em 2016 e atrás do objectivo que traçou: ficar à frente do candidato da extrema-direita. Apesar de reconhecer a derrota, a eurodeputada e dirigente bloquista atira a responsabilidade da divisão à esquerda para o Largo do Rato.
“Os resultados estão à vista: não são o que esperávamos, não são os que esperei e estão longe do objectivo que traçámos.” Foi com uma assumida derrota que Marisa Matias reagiu aos resultados provisórios que às 22h lhe davam menos de 4% dos votos, o que fica muito aquém dos 10,12% conseguidos em 2016 e que a colocou muito atrás da meta que desenhou na recta final da campanha: “Ficar à frente do candidato de extrema-direita”.
Quando os primeiros resultados começaram a ser projectados nos três ecrãs colocados no Pavilhão Centro de Portugal, em Coimbra, na sede de campanha de Marisa Matias, fez-se silêncio. A primeira reacção ao resultado chegaria pela voz do líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, e logo aí a responsabilidade do resultado foi colada à direita que “normalizou a extrema-direita”. “Resulta numa configuração que está aos olhos de todos e de todas”, resumiu, enquanto era ouvido pelos poucos dirigentes bloquistas presentes como José Manuel Pureza, Joana Mortágua, Mariana Mortágua, José Gusmão e Fabian Figueiredo.
Cerca de uma hora depois, foi a vez da candidata Marisa Matias subir ao palco enquanto era aplaudida pelos apoiantes presentes na sede de campanha, reservada praticamente à equipa técnica e jornalistas. Depois de reconhecer que apesar de ter dado “o melhor” de si “neste combate” o resultado não foi satisfatório, Marisa Matias virou as atenções para o PS, rejeitando qualquer responsabilidade da divisão de votos à esquerda. “Se alguma das candidaturas da esquerda tivesse desaparecido, a esquerda tinha somado menos. Se a pergunta é porque é que a esquerda não somou mais nesta eleição, essa pergunta terá de fazê-la ao PS e não a mim”, defendeu.
Argumentando que a sua candidatura não foi “uma falta de comparência” (como por várias vezes acusou o PS), Marisa Matias reforçou que continuará o seu trabalho, independentemente dos resultados eleitorais da última noite. “Hoje como ontem, amanhã como hoje, cá estarei para todas as lutas, para ganhar e para perder, como fiz sempre e como faz toda a minha gente”, vincou.
Marisa sublinhou que estas eleições aconteceram “em contextos incomparáveis”, não só porque se tratava de uma reeleição, mas também porque existe uma crise pandémica, económica e social, além de estarmos “pela primeira vez a ter de enfrentar o crescimento da extrema-direita em Portugal”. “Tudo isso, queiramos ou não, condiciona os resultados”, declarou.
Depois, Marisa virou o foco para “os combates” que estão pela frente e que continuará a ter na sua agenda, como dirigente do BE. “Queremos um país solidário que se junte pelo Serviço Nacional Saúde e pelos seus profissionais, a nossa maior arma contra a pandemia”, declarou. Marisa Matias pediu também “um investimento urgente” no país para que se possa “defender a democracia, como fizeram hoje tantos portugueses e tantas portuguesas”. “Não deixaremos que [a democracia] seja destruída. Queremos e precisamos de um país solidário, que não aceite a crise e a divisão como política”, assegurou, sem se referir a nenhum candidato.
Para o futuro, Marisa espera “que ninguém se sinta excluído pela sua cor da pele ou pela sua orientação sexual” e “que nenhuma mulher se sinta menorizada”. Lembrando o movimento do #VermelhoEmBelém que marcou a sua candidatura, a candidata sublinhou que “para lá da eleição, fica o compromisso fundo com cada mulher, com cada menina, com cada homem também, que o combate pela igualdade e o fim da violência contra as mulheres continuará”, disse, num dos momentos mais aplaudidos da noite.