Há profissionais que não estão na linha da frente a serem vacinados contra a covid, diz bastonária dos Farmacêuticos
O alerta foi deixado pela bastonária dos Farmacêuticos e as denúncias que chegaram à Ordem serão enviadas ao coordenador da task force da vacinação contra a covid. Ana Paula Martins lamenta que idosos com mais de 80 anos não façam parte dos grupos prioritários para a vacinação.
O alerta foi deixado pela bastonária dos Farmacêuticos e as denúncias que chegaram à Ordem serão enviadas ao coordenador da task force da vacinação contra a covid. “Tivemos notícia de vários casos que foram notificados à Ordem dos Farmacêuticos que ficam pasmados pelo facto de não serem vacinados, quando depois há profissionais que não estão na linha da frente ou que estão em teletrabalho e que são vacinados”, afirmou Ana Paula Martins, na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19 onde foi ouvida esta esta quinta-feira.
“Esta é uma questão que não conseguimos clarificar. Já falámos com o coordenador da tasf force e ficámos de fazer chegar os casos que foram entretanto revelados. Penso que tem muito a ver com a organização dos centros hospitalares e das próprias Administrações Regionais de Saúde”, disse ainda a bastonária dos Farmacêuticos.
Horas antes, numa audição também relacionada com o acompanhamento das medidas de combate à pandemia, a bastonária dos Enfermeiros tinha apontado o mesmo problema. “São situações pontuais, mas são importantes, que se estão a agravar com o início da vacinação dos lares, em que estão a vacinar primeiro pessoas que não têm contacto directo com doentes ao invés de enfermeiros, médicos e assistentes operacionais”. “Isto é próprio de um país saloio. Não posso estar a escolher aqueles de sou amigo em detrimento dos que tratam doentes. Temos enviado estes relatos à Assembleia da República porque entendemos que tem de haver culpados do que aconteceu”, disse Ana Rita Cavaco.
Mas não são só estes casos que preocupam a bastonária dos Farmacêuticos, que na sua audição lamentou que ainda não sejam conhecidas dadas para vacinar os farmacêuticos que trabalham no privado e não só. “Estamos a fazer o nosso trabalho, contactado com a task force, mas não temos data de início para a vacinação. Mesmo dentro dos hospitais do SNS e dentro dos centros de saúde, há muitos farmacêuticos que ainda não têm ideia de quando podem ser vacinados.”
Uma situação que Ana Paula Martins atribui à falta de vacinas e a “uma certa desorganização” que lhe parece existir. A bastonária aproveitou ainda para dizer aos deputados que está preocupada que “não haja monitorização - pelo menos nós não conhecemos - de quem vai sendo vacinado e os grupos prioritários não incluam quem tem mais de 80 anos”. “Não compreendemos. A evidência aponta para isso”, reforçou, lembrando as indicações da Comissão Europeia para que se vacinem até ao final de Março 80% das pessoas com mais de 80 anos.
"Farmacêuticos devem vacinar em complementaridade"
Questionada sobre o papel que as farmácias podem ter na estratégia de vacinação, Ana Paula Martins reiterou a disponibilidade das farmácias e dos seus farmacêuticos. “Nós entendemos que farmácias e os farmacêuticos devem vacinar, se o Ministério da Saúde tomar esta decisão, em complementaridade. Não se substituem aos enfermeiros, aos médicos, às equipas dos centros de saúde. Advogamos que vacinar oito milhões de portugueses é uma tarefa, no tempo que temos para atingir a imunidade de grupo, muito exigente e que vai precisar de todos.”
Ana Paula Martins foi confrontada com a posição dos enfermeiros que defendem que a vacina da covid só deve ser feita por estes profissionais por causa de possíveis reacções adversas graves, como choque anafiláctico. “As reacções adversas não são em função do profissional que as administra. As reacções anafilácticas ocorrem uma em cada milhão. Temos dez milhões de portugueses. Temos reacções adversas à vacina da gripe como temos à da covid. Temos várias notificações e algumas delas graves. Não é pelo local que são administradas. Não tivemos até hoje nenhum problema de segurança em relação à administração de vacinas”, disse.
Ainda no decurso da audição, a bastonária assumiu que ficou surpreendida com o apelo deixado pela ministra da Saúde no Parlamento, quando pediu que todos ajudassem no combate à pandemia. “Andamos todos há muito tempo a querer ajudar. Achamos que para se poder pedir ajuda e se poder ter uma inteligência colectiva e colaborativa, é preciso que haja diálogo. E para que haja diálogo, é preciso que haja simpatia e empatia e não temos tido do Ministério da Saúde – à excepção do secretário de Estado António Lacerda Sales - contactos para envolvimento das pessoas para se encontrarem soluções em conjunto”, lamentou.
Também os bastonários dos Médicos e dos Enfermeiros lamentaram não terem sido ouvidos pela ministra da Saúde. “Este é um aspecto que eu gostaria de realçar porque numa situação de emergência médica, de emergência em saúde pública, acho que era fundamental que a senhora ministra da Saúde ouvisse as várias ordens profissionais e as pusesse a colaborar na resposta que temos que dar a esta pandemia”, afirmou Miguel Guimarães.