Rio acusa primeiro-ministro de “desgoverno” sobre fecho de escolas
Líder do PSD apontou exemplo de hospital não utilizado em Miranda do Corvo para dizer que o executivo “precisa de um abanão para entrar na ordem”.
O líder do PSD está de acordo com o encerramento das escolas mas diz que a medida “peca por tardia” e lamenta que o Governo não tenha trabalhado no sentido de poder oferecer ensino à distância. Daqui a 15 dias, quando a situação for reavaliada, Rui Rio acredita que as escolas “provavelmente” não vão reabrir.
“O PSD está de acordo com esta medida, mas peca por tardia. Mas aqui há um lamento muito grande. Quando o Governo diz que está preocupado com o desenvolvimento das crianças e dos jovens, pelo que queria manter as aulas, se assim fosse o Governo tinha desde Abril melhorado as aulas à distância”, afirmou Rui Rio em conferência de imprensa, no Porto.
Rui Rio resumiu as decisões dos últimos dias sobre a questão das escolas. “Na segunda-feira, o Governo jurava a pés juntos que as aulas iam continuar, na terça abriu os ATL, na quarta até arrancam os testes aos alunos e hoje decide fechar tudo. Isto é obviamente um desgoverno”, disse. A mesma crítica foi apontada pelo líder da bancada do CDS, Telmo Correia, ao acusar o Governo de estar “desnorteado”, apesar de concordar com a medida do encerramento das escolas.
O líder social-democrata alegou haver outra contradição no discurso do Governo ao referir-se à avaliação positiva que o executivo fez das aulas à distância, que decorreram no primeiro confinamento em Março e Abril de 2020. Se assim fosse, o modelo voltaria a ser aplicado. “Foi o próprio Governo que tinha corrido tudo bem. Sabemos todos que não correu muito bem”, disse, lamentando que o executivo não tenha “preparado” com tempo o mesmo modelo. Agora, encerrou as escolas “perante a pressão da opinião pública e porque não estava preparado para as aulas à distância”.
O líder do PSD admitiu que a gestão da pandemia “não é fácil” e que isso o tem levado a conter-se nas críticas públicas. “Desde a primeira hora reconheço essa dificuldade e tenho poupado as críticas. E depois me fazem a mim por não fazer as críticas”, afirmou, numa alusão aos que o têm considerado demasiado brando para com o Governo.
Em resposta aos jornalistas, Rui Rio considerou que a solução agora adoptada “é melhor do que nada” mas era “melhor que houvesse aulas à distância embora sejam menos produtivas do que as presenciais”. “Nenhum de nós sabe se por daqui a 15 dias se pode reabrir. O mais provável era não reabrir”, disse, referindo que tem informações de que no seio do Governo há “opiniões diferentes” sobre a matéria mas que atribui a “responsabilidade ao Governo como um todo”.
Apesar de justificar a sua atitude de contenção nas críticas, Rui Rio pegou no exemplo do Hospital Compaixão, em Miranda do Corvo, que é novo e que está fechado “com os plásticos em cima das camas”, para perguntar o motivo pelo qual o ministério da Saúde não celebra o contrato para utilizar as 84 camas. “Há momentos em que é preciso dar um abanão ara ver se o Governo entra na linha para ver se Portugal vence esta batalha senão não vai acontecer”, disse a propósito desta situação, acrescentando desconhecer se o motivo da ministra para não fazer o contrato “é político ou é partidário”.
A mesma questão foi colocada pelo deputado da Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, no debate parlamentar da passada terça-feira. Na resposta, a ministra da Saúde disse que a unidade não funciona por não haver recursos humanos. “Não há um hospital onde há camas e onde há espaço, isso não é um hospital. Paremos de enganar os portugueses. Há enfermeiros para mandar para lá? Há médicos para mandar para lá? Não há. Houvesse e seria isso que faríamos agora”, disse Marta Temido, referindo que existe um “contrato que o Serviço Nacional de Saúde já tem com esse mesmo hospital para cerca de 80 camas de cuidados continuados integrados”.
A poucos dias das presidenciais, Rui Rio apelou ao voto dos portugueses aos que têm “medo” de ir votar por causa da situação sanitária e depois apelou directamente ao voto em Marcelo Rebelo de Sousa. Por outro lado, o líder do PSD pediu ao Governo que “organize as eleições em segurança para não haver o espectáculo da semana passada com as pessoas ao monte”.
Questionado sobre os incidentes na campanha de André Ventura, o líder do PSD disse não antever qualquer escalada de violência e condenou “a actuação das pessoas que foram perturbar” a candidatura e não condenou “a polícia que serve para pôr a ordem”. “É-me indiferente o partido que pretendiam agredir, de esquerda ou direita, de cima ou de baixo”, disse.
Rui Rio deixou ainda um apelo sobre o cumprimento das restrições impostas: “Portugal vive numa situação dramática, não é muito diferente de uma guerra, temos de estar unidos enquanto Nação e essa união traduz-se no cumprimento das regras. Não interessa a cor do Governo, se estamos muito ou pouco de acordo com as medidas”.