Doentes internados em Lisboa e Vale do Tejo já são mais do dobro do máximo previsto há três meses

Em Lisboa e Vale do Tejo, há muito menos doentes transferidos para unidades privadas e do sector social do que no Norte. Presidente da ARS anuncia abertura de dois hospitais de campanha na capital.

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Paulo Pimenta

Quando a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) criou um grupo para coordenar o internamento de doentes com covid-19 nos hospitais na região, em 16 de Outubro, o último nível do seu plano de contingência previa uma lotação máxima de 917 camas em enfermaria e de 185 camas em unidades de cuidados intensivos (UCI). Três meses depois, porém, já estão internados em enfermaria mais do dobro dos pacientes (1918) e a anterior lotação máxima dos cuidados intensivos também já foi mais do que ultrapassada esta segunda-feira - eram 253 os doentes em estado grave em tratamento nestas unidades de elevada complexidade.

São dados da ARSLVT que traduzem de forma expressiva a enorme pressão a que estão sujeitos os hospitais da região. “As taxas de ocupação são elevadas, como vários hospitais têm demonstrado”, assume a ARS ao PÚBLICO, mas sem precisar percentagens, argumentando que os números são “voláteis”.

O certo é que vários hospitais, como o de Loures e o Garcia de Orta (Almada), com taxas de ocupação superiores a 240%, têm sido obrigados nos últimos dias a transferir doentes para unidades do Norte e do Algarve, que estão mais folgadas. Também se têm multiplicado as transferências para entidades privadas, do sector social e militares que, no domingo, acolhiam um total de “237 utentes do SNS (covid e não-covid)”.

Curiosamente, em LVT há muito menos pacientes transferidos para hospitais privados e do sector social do que no Norte. A Associação Portuguesa da Hospitalização Privada revelou que há 889 camas disponíveis, mais de metade das quais (506) no Norte. Em Lisboa há apenas 257, enquanto no Centro há 81 e no Algarve 45.

O presidente da ARSLVT, Luís Pisco, adiantou entretanto à TVI que abrem “esta quarta-feira” dois “hospitais de campanha”, um no estádio universitário, que está pronto desde Junho mas nunca chegou a funcionar, e outro, num hotel, a Casa do Atleta, cedido pela Federação Portuguesa de Futebol e que tem 44 quartos com 88 camas. Mas esta última estrutura será para “doentes covid sem necessidade de internamento hospitalar que eventualmente tenham uma componente social”, esclareceu depois a ARS. 

Para aliviar as unidades do SNS em ruptura, o hospital de campanha do estádio universitário, que tem uma capacidade que pode ir até às 310 camas, abrirá nesta primeira fase apenas com 60 camas, segundo Luís Pisco.  Com toda a logística preparada, esta estrutura que dispõe de oxigénio e equipamentos para análises básicas necessita, porém, de 19 médicos e de 21 enfermeiros para começar a funcionar, destaca o director, o médico António Diniz. Destina-se, para já, a pacientes infectados com o novo coronavírus que “ainda não têm critérios de alta clínica” provenientes dos três grandes centros hospitalares de Lisboa e dos hospitais de Loures e de Amadora-Sintra.

Pressão nos hospitais do Alentejo

Outra região também muito pressionada é a do Alentejo, onde as 33 camas de cuidados intensivos para doentes com covid estavam todas ocupadas (dados de domingo) e a taxa de ocupação em enfermaria era de 83%, de acordo com a ARS. Aqui não há hospitais privados com dimensão suficiente para acolher pacientes do SNS, explica.

No Centro, a situação também está muito complicada. Esta segunda-feira estava “a ser preparado o “Hospital Militar de Coimbra” para acolher até 36 camas covid”, segundo a ARS local. Em Viseu, o centro hospitalar estava perto do limite e previa-se que um hospital de campanha montado no Pavilhão do Fontelo e com cerca de 60 camas começasse a receber doentes já esta segunda-feira. O Centro Hospitalar da Cova da Beira já não tinha vagas de cuidados intensivos e eram escassas as vagas em enfermaria (ocupação de 94,6%).

Ainda assim, de acordo com a ARS/Centro, contabilizando a capacidade de todos os hospitais públicos da região, havia 74 camas vagas em enfermaria e 14 em cuidados intensivos, com taxas de ocupação de 93% e 89%, respectivamente. E ainda havia alguma folga nas camas acordadas com unidades privadas e do sector social.

Menos pressionados para já, o Norte e o Algarve têm recebido doentes de LVT e do Alentejo. No Norte, esta segunda-feira estavam vagas 181 das 1410 camas de enfermaria e 55 das 284 camas em cuidados intensivos dedicadas a doentes com covid, mas dois centros hospitalares já estavam sem capacidade de internamento em UCI (o de Entre Douro e Vouga e o de Trás-os-Montes e Alto Douro) e três tinham taxas de ocupação superiores a 90% – Braga, Tâmega e Sousa e São João -, adiantou a ARS/Norte.

Nesta região tem sido abundante o recurso às camas contratadas com privados, 243 para doentes com covid e 212 para doentes com outras patologias, e que já têm taxas de ocupação próximas dos 100%, frisa a ARS.

No Algarve, as taxas de ocupação, quer em enfermarias quer em cuidados intensivos, rondam os 80%, e o centro hospitalar local, que inclui as unidades de Portimão e de Faro, tinha 144 doentes com covid internados em enfermaria e 34 em UCI.

O hospital de campanha aberto na semana passada no Pavilhão Arena, em Portimão - e que é coordenado pela própria administradora do centro hospitalar que ali vem fazendo turnos como médica -, tem recebido pacientes de outras regiões e segunda-feira tinha três dezenas internados. Mas tem capacidade para 100.

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