Hospital de Loures fala de “cenário de catástrofe” e já tem doentes ventilados na urgência
“Isto não é funcionar em rede, é gerir um Continente como se fosse uma mercearia de bairro”, diz administrador do Hospital Beatriz Ângelo.
“Já é um cenário de catástrofe.” As palavras são do presidente do conselho de administração do Hospital Beatriz Ângelo (Loures), unidade que tem estado sob enorme pressão, com quase metade das camas com doentes com covid, uma taxa de ocupação “acima dos 240% há vários dias” e onde já havia neste sábado pacientes “com ventiladores no serviço de urgência a aguardar vaga” em cuidados intensivos. “Estamos a esticar os recursos até rebentarem. E estamos muito perto disso”, avisa Artur Vaz, que se tem visto obrigado a fazer uma gestão “dia-a-dia”, numa “ginástica que não imaginava ser possível”.
Com 187 doentes com covid internados neste sábado, 17 dos quais em cuidados intensivos, e uma afluência crescente de pacientes com outras patologias, foi necessário proceder a uma sucessão de adaptações. “Passamos de 16 para 18 camas nos cuidados intensivos e, eventualmente, vamos aumentar para 19 ou 20; a unidade de pediatria foi ocupada com doentes não covid adultos; transferimos doentes para o Porto, para o Algarve e para hospitais privados. Isto já não é uma situação de pré-catástrofe, é de catástrofe”, descreve Artur Vaz.
O cenário complicou-se nos últimos dias, mas “há meses” que o hospital de Loures está “em sobre-esforço”, com taxas de ocupação substancialmente superiores aos dos grandes hospitais de Lisboa, como o Santa Maria. Então os hospitais não funcionam em rede? “Qual quê? Todos os dias tenho uma pessoa a telefonar para a administração regional de saúde a ver se se arranja uma vaga para cuidados intensivos. Isto não é funcionar em rede, é gerir um Continente como se fosse uma mercearia de bairro”, lamenta.
Loures não é caso único. Depois de uma noite de sexta-feira e de uma madrugada de sábado de caos à porta dos serviços de urgência de vários hospitais de Lisboa e Vale do Tejo, com imagens a circular pelas redes sociais de longas filas de ambulâncias com doentes a ter que aguardar várias horas para serem admitidos, por falta de macas e de camas, ontem à tarde a situação estava mais calma. Mas foram vários os alertas que se ouviram.
Daniel Ferro, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, afirmou que o Santa Maria já está em “máxima sobrecarga”. “A capacidade do sistema está próxima, muito próxima do limite”, disse, acrescentando que o “plano de contingência foi esgotado”. Segundo Daniel Ferro, a pressão aumentou 70% nos últimos dias, sendo de esperar que se agrave nos próximos.
O administrador apelou ainda a “uma responsabilidade partilhada entre os hospitais e a sociedade” para conter esta terceira vaga que já ultrapassou as expectativas e o plano de contingência.
No Hospital Garcia de Orta, em Almada, a ocupação de quase todas as camas levou a administração a divulgar ontem um comunicado no qual afirmava que, a manter-se, a situação coloca o hospital num “cenário de pré-catástrofe”. “Mantém-se a enorme pressão assistencial, devido à elevada procura de ‘doentes covid’ e doentes ‘não covid’ e que dura há mais de 10 semanas, tendo o hospital de recorrer a transferências para outros hospitais do país”, acrescentava. Com S.T.