Boris Johnson anuncia confinamento e limita Natal. Variante do vírus pode ser até 70% mais transmissível

Londres e o sudeste de Inglaterra entrarão num nível mais elevado de restrições, não podendo misturar-se com outras famílias no Natal. Escócia e País de Gales também vêem restrições de Natal apertadas.

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O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson Reuters

Lojas encerradas, pessoas em casa, preferencialmente em teletrabalho, e proibição de reunião com outras famílias no Natal nas zonas com restrições mais apertadas, como Londres. É um novo confinamento que abrange esta cidade e o sudeste de Inglaterra, sendo que as pessoas não devem sair destas zonas​ neste nível de alerta. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reuniu-se neste sábado com os vários ministros para discutir um plano de acção urgente a implementar, após ter sido confirmado que uma nova variante do SARS-CoV-2 pode espalhar-se mais rapidamente e ser responsável por um aumento dos casos

Boris Johnson impôs, assim, mais restrições devido à pandemia, apelando a que os cidadãos fiquem em casa e alterando os planos para o Natal, segundo avança a agência Reuters, depois de o governante ter dado uma conferência de imprensa. BBC já tinha avançado que Londres e o sudeste de Inglaterra entrariam num nível mais elevado de restrições (nível quatro) e que o governo iria dar um passo atrás no que diz respeito ao relaxamento das medidas que estava planeado durante o Natal.

“Sei quanta emoção as pessoas põem nesta altura do ano, e sei o quão decepcionante isto será”, disse, acrescentando que, “quando a ciência muda”, é necessário “mudar a resposta”. “Quando o vírus altera os seus métodos de ataque, temos de mudar o nosso método de defesa e como vosso primeiro-ministro acredito sinceramente não ter alternativa”.

Assim, nestas zonas, as pessoas deverão permanecer em casa, excepto por razões essenciais, como trabalho. Entre outras medidas, as lojas estarão fechadas, bem como os espaços interiores de entretenimento e lazer. Os contactos sociais serão limitados a encontrar outra pessoa num espaço ao ar livre.

Isto significa que os cidadãos que estão abrangidos pelo nível quatro de restrições não poderão reunir-se com outras famílias, no Natal, enquanto os restantes só terão permissão para encontros com amigos e familiares (até três agregados familiares) no dia de Natal (em vez dos cinco dias previamente estabelecidos). As novas regras já estarão em vigor neste domingo de manhã e deverão ser revistas a 30 de Dezembro, mas não está previsto relaxamento de medidas para dia 31.

Nova variante do vírus até 70% mais transmissível 

Boris Johnson disse que a nova variante do vírus não parece ser mais perigosa, mas parece estar a espalhar-se mais rapidamente do que seria de esperar em Londres e no sudeste de Inglaterra, podendo aumentar o Rt (índice de contágio) em 0,4 ou mais e ser 70% mais transmissível, disse.

O director-geral da Saúde britânico, Chris Whitty, já tinha afirmado que, embora não haja actualmente prova de que a variante do novo coronavírus esteja associada a uma taxa de mortalidade mais elevada ou que possa ter impacto no desenvolvimento de vacinas, os investigadores estão a trabalhar para confirmar (ou não) estas hipóteses.

“Alertámos a Organização Mundial da Saúde e continuamos a analisar os dados disponíveis para melhorar o nosso conhecimento”, disse Chris Whitty em comunicado.

O Reino Unido registou na sexta-feira mais 28.507 novos casos de covid-19 e 489 mortes. O índice de transmissão (Rt) está estimado entre 1,1 e 1,2 — o que significa que o número de casos está a aumentar rapidamente.

Na sexta-feira, Boris Johnson afirmou que esperava que não fosse necessário implementar um terceiro confinamento em Inglaterra após o Natal e tem resistido até agora aos apelos para que o plano de relaxamento das restrições durante cinco dias na quadra natalícia seja cancelado.

A falta de actuação “significará mais sofrimento no futuro”, alertou Jeremy Farrar, director da instituição Wellcome Trust e membro do Grupo Consultivo Científico para as Emergências (SAGE, na sigla em inglês) no Twitter. “Devemos continuar a questionar se estamos a fazer o suficiente e a agir rápido o suficiente”, acrescentou.

Por sua vez, o Partido Trabalhista critica o sistema britânico de restrições por níveis, afirmando que este falhou na luta contra o coronavírus. “Há alguns dias que se tornou claro que o vírus está novamente fora de controlo em algumas partes do país”, afirmou o porta-voz do partido, Jonathan Ashworth.

Restrições no Natal também na Escócia e País de Gales 

Escócia e País de Gales também viram as regras para o Natal apertarem.

As viagens serão proibidas entre a Escócia e o resto do Reino Unido, anunciou a primeira-ministra escocesa. A proibição manter-se-á em vigor durante a quadra festiva e o período temporal de cinco dias para encontros será reduzido para um dia, o de Natal (tanto na Escócia, como no País de Gales).

Toda a Escócia será colocada no nível quatro de restrições que serão revistas dentro de duas semanas. Também o País de Gales verá as regras relativas ao confinamento entrarem em vigor a partir da meia-noite, cancelando, assim, os planos festivos de Natal, com excepção apenas do dia de Natal. 

Variantes do vírus sem “grande impacto” nas vacinas

Celso Cunha, virologista e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-NOVA), diz que, tanto quanto saiba estas variantes ainda não terão chegado a Portugal: “Que tenha conhecimento não. Parecem estar limitadas, neste momento, a estes dois locais”, disse ao PÚBLICO, quando questionado sobre as variantes detectadas no Reino Unido e na África do Sul.

Este docente diz não ter ainda dados que esclareçam em concreto sobre se a maior gravidade da variante detectada na África do Sul ou a maior transmissibilidade da do Reino Unido se devem exclusivamente às variantes ou se poderá haver outros factores que o podem estar a influenciar (relacionados com comportamentos, hábitos, sistema imunitário, carga viral, permanência no meio ambiente, entre outras hipóteses).

Celso Cunha nota que são, porém, dados que “podem abrir pistas sobre a doença”, que podem levar “a investigar melhor as variantes mais agressivas e a estar mais alerta para o surgimento de outras variantes”. Ressalva, no entanto, que, no que se refere a vacinas, estas variantes não terão, “neste momento, grande impacto”.