Governo britânico acusado de nomeações “ilegais” no combate à covid-19

Organizações não governamentais fizeram queixa na Justiça por causa da nomeação de três pessoas sem experiência para chefiar áreas importantes da luta contra a pandemia. Duas das dirigentes são casadas com figuras importantes do Partido Conservador. Tudo foi feito sem concurso público.

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Boris Johnson apresenta na segunda-feira o plano para combater a pandemia nas próximas semanas Reuters/POOL

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e o ministro da Saúde, Matt Hancock, estão a ser acusados de nepotismo por organizações sem fins lucrativos devido à nomeação de três figuras sem experiência na área da saúde e com ligações ao Partido Conservador para cargos de topo no combate à pandemia de covid-19.

Em causa estão as nomeações de Dido Harding para dirigir o departamento de testagem e rastreamento do Serviço Nacional de Saúde britânico; de Kate Bingham para a direcção da equipa responsável pela vacina contra o SARS-CoV-2; e de Mike Coupe para coordenador do serviço de testagem, do mesmo departamento de Harding, segundo o The Observer

De acordo com a queixa apresentada nos tribunais pela Good Law Project, uma organização pela salvaguarda da transparência, e pelo Runnymede Trust, um think tank dedicado à defesa da igualdade, o Governo britânico agiu “ilegalmente” nestas três nomeações, feitas com base na proximidade dos nomeados com o Partido Conservador e não nos seus currículos ou experiência profissional, tendo sido dispensados os concursos públicos normalmente exigidos. 

​Antes de assumir o cargo, Dido Harding trabalhou na direcção dos supermercados Tesco e Sainsbury's, enquanto Kate Bingham trabalhou nas áreas da bioquímica e do investimento em capital de risco. Harding e Bingham são casadas, respectivamente, com o deputado John Penrose, do Partido Conservador, e com o secretário de Estado do Tesouro, Jesse Norman.

Já Mike Coupe, que coordena a realização de testes de despistagem ao coronavírus, trabalhou com Dido Harding no Sainsbury's, não tendo qualquer experiência na área da saúde.

Além destas três nomeações, cujos procedimentos vão ser analisados em tribunal, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, está ainda envolvido noutra polémica, depois de ter escolhido uma amiga lobista para um cargo na direcção do Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC).

Segundo o The Times, Hanck nomeou a amiga e ex-colega universitária Gina Colandangelo em Março como conselheira não remunerada no DHSC durante um período de seis meses.

No final do contrato, Colandangelo, directora da Luther Pendragon, uma empresa de lobby que tem ajudado os seus clientes a garantirem contratos milionários durante a pandemia, foi nomeada como directora não executiva da DHSC, o que lhe pode valer mais de 15 mil libras anuais pagas pelos contribuintes britânicos, levantando várias questões éticas e de idoneidade.

Estas polémicas surgem na véspera de o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, comparecer na Câmara dos Comuns para apresentar o seu plano para combater a pandemia nas próximas semanas.

O confinamento nacional imposto em Inglaterra há três semanas termina no próximo dia 2 de Dezembro e o Governo prepara-se para aliviar algumas medidas e permitir reuniões familiares durante o Natal.

Segundo a imprensa britânica, na segunda-feira, Johnson vai defender a implementação de um sistema de três níveis de restrições, impostas de acordo com a gravidade da situação epidemiológica nas diversas áreas.

O aliviar das medidas de confinamento surge numa altura em que o Reino Unido conseguiu achatar a curva de novas infecções, apesar de o número de casos de SARS-CoV-2 e de mortes causadas pela covid-19 continuar elevado – no sábado, morreram mais 341 pessoas devido à doença causada pelo coronavírus e foram registados mais 19.75 casos de infecção.

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