O Natal tem luz verde, mas “não será normal” e terá consequências
Viajar entre municípios para passar a consoada e o dia de Natal em família deverá ser possível, mas é preciso cautela. O Governo está a preparar-se para levantar as restrições, mas logo a seguir o confinamento regressa. Os encontros de Natal terão consequências no aumento de casos.
O primeiro-ministro avisou nesta quinta-feira que as restrições ditadas pelo combate à pandemia só poderão ser suavizadas no Natal, para que as famílias se possam reunir, se até lá se mantiver “a pressão sobre a mola”. Ou seja, se o país não descurar os cuidados a ter para evitar a propagação do coronavírus.
À saída de mais um encontro na sede do Infarmed sobre a evolução da pandemia, que voltou a reunir responsáveis políticos, no poder e na oposição, com a comunidade científica, António Costa sublinhou que o objectivo será “chegar ao Natal com a situação devidamente controlada”. Mas o alívio natalício será curto. As tréguas não deverão durar mais de três dias e terminarão logo a 26 de Dezembro.
A chegada de Dezembro trouxe algum alívio na evolução de casos diários de covid-19, resultado das medidas de restrição adoptadas nas últimas semanas. Mas ainda que os dados apontem para que o pico desta segunda vaga tenha já sido ultrapassado, e que estejamos agora numa “tendência de descida”, será necessária “disciplina e medidas que forcem estes resultados” a descer ainda mais, alertou na reunião o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. Até porque, “assim que aliviamos a mola, a mola volta a subir”.
Embora se fale num alívio de restrições (que permitirá, por exemplo, a livre circulação entre municípios independentemente dos diferentes níveis de risco), este continuará a ter de ser um Natal diferente, insistiu o primeiro-ministro. O líder do Governo informou que o seu executivo está a trabalhar com especialistas para que a logística do Natal tenha em conta a forma como se transmite o vírus e tudo o que pode ser feito para evitar “o mais possível” a sua propagação. Naturalmente, quanto maior for o número de pessoas à mesa maior será o risco de transmissão, uma vez que durante as refeições as pessoas estão mais juntas, sem máscara e durante muito tempo - e o risco de contágio dispara.
Apesar de as medidas concretas só serem conhecidas neste sábado, após o Conselho de Ministros, António Costa já avisou que enquanto o Natal será regulado de modo a permitir “as melhores condições possíveis” para os encontros familiares, a Passagem de Ano terá necessariamente “todas as restrições” – até porque “há factores de risco mais acentuados”, acrescentaria no final da sessão o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro.
O objectivo será recuperar rapidamente do aumento de casos que os especialistas alertaram que será consequência inevitável do permitir a reunião das famílias no Natal. É que, mesmo que admitindo que “em cada família o risco é pequeno, isso multiplicado por milhares de reuniões desta natureza e desta dimensão corresponderá à ocorrência de muitas infecções”, alertou Henrique Barros, o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Também o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, um dos peritos ouvidos pelo Governo, avisou que, “inevitavelmente”, haverá um aumento de contágios na altura festiva e que será importante controlá-lo.
Ainda que até agora não tenha sido discutido um número máximo de familiares que poderão estar reunidos à mesa, um dos presentes na sessão do Infarmed (que interrompe a transmissão quando são os deputados e membros do Governo a colocar perguntas), informou o PÚBLICO que Henrique Barros sugeriu que uma das hipóteses poderia ser limitar as mesas de Natal a um máximo de dez pessoas por casa, à semelhança dos limites que estão a ser anunciados noutros países.
O plano para o Natal parece ser consensual entre todos os partidos. Depois de ouvirem os especialistas de manhã e de se terem reunido com o Presidente da República durante a tarde, a esquerda e a direita voltaram a falar em uníssono para concordar com a flexibilização das regras e das restrições no Natal e a pedir mais pedagogia nas medidas anunciadas (de forma a garantir a sua compreensão e eficácia).
Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, defendeu “um levantamento ténue e sereno das regras de deslocação e reunião familiar”, enquanto Jerónimo de Sousa, do PCP, lembrou que este período é importante para “sectores que hoje estão com a corda na garganta”, como a restauração, a hotelaria e o turismo. Também André Silva, líder do PAN, sublinhou que se trata “de uma quadra carregada de espiritualidade para muitas pessoas” e apelou a que se aposte em medidas pedagógicas, para mitigar os efeitos do alívio de restrições.
Também Rui Rio, líder do PSD, defendeu que “poderá ser saudável” para os portugueses conseguirem “viver o Natal” e ter “um pequeno escape para tudo isto que está a acontecer”.
Ainda assim, é recomendada cautela nos planos familiares que se possam começar a traçar. É que, apesar de serem esperadas novidades já neste sábado “para que as pessoas possam ter uma noção antecipada do que vai ser o Natal”, o primeiro-ministro mantém a ressalva de que continua a ser possível voltar a dar um passo atrás, caso a realidade assim o exija e voltar a confinar o país e a apertar as medidas. Como sempre, “tudo depende de como a pandemia evolui até lá”. E se o horizonte promete um curto futuro promissor, para já, a regra continua a ser confinar.