A vacina que temos e a que não temos
Vamos ter vacinas e vamos tê-las antes do tempo previsto. Portugal assegurou a compra de 22 milhões de doses de vacinas contra a covid-19.
A boa notícia é esta: Portugal assegurou a compra de 22 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 para inocular toda a população nacional, de forma faseada, num plano de vacinação gratuito que irá prolongar-se até ao Verão. Todas as vacinas têm as suas nuances, quer quanto à eficácia anunciada e ao modo como são conservadas, quer quanto ao momento em que serão distribuídas, porque a vacina pode ser para todos, mas não será para todos ao mesmo tempo.
Nos últimos dias, várias farmacêuticas têm confirmado a eficácia muito elevada das suas vacinas e apresentado pedidos para que a produção e comercialização ocorram o mais rapidamente possível, quando até há pouco tempo o cenário mais optimista apontava para a sua chegada algures no primeiro trimestre do próximo ano. Vamos ter vacinas e vamos tê-las antes do tempo previsto.
Como escrevia António Barreto no PÚBLICO deste sábado, “o que uns milhares de cientistas fizeram, em menos de 12 meses, sob enorme pressão humanitária, merece o aplauso universal e é credor de admiração sem reservas”. Sem dúvida. Fizeram-no porque o que está em causa é um vírus que paralisa o mundo inteiro, mas também porque esta é uma gigante disputa entre laboratórios, pelo que significa monetariamente, e, ao mesmo tempo, um “campo de batalha internacional”, como salientava Jorge Almeida Fernandes em Maio passado.
Com a transposição do conflito das taxas aduaneiras para a descoberta de uma vacina, o mais provável é que os EUA ultrapassem a China nesta corrida, na qual também participam laboratórios do Reino Unido, Alemanha, Rússia ou Cuba. A emergência sanitária acrescentou uma emergência económica para a qual não haverá saída mais rápida e eficaz. Entrámos numa contagem decrescente para a administração da única solução capaz de suster a aflição global em que todos vivemos e que fez da pandemia a palavra do ano do dicionário Merriam-Webster.
A má notícia é esta: uma possível vacina contra a malária venceu a 64.ª edição dos Prémios Pfizer 2020, mas não há prazos para a sua comercialização. A malária não é uma doença global e é endémica de certas regiões do planeta, mas, segundo a Organização Mundial de Saúde, vai causar este ano mais mortes do que a covid-19. A corrida a uma vacina para a covid-19 não tem precedentes históricos. Pode ser que a lenta descoberta de uma vacina contra a malária tenha agora o impulso que sempre lhe faltou por ser apenas a doença de alguns.