Ecrãs para sentir fogo-de-artifício e abraços

Pandemia empurrou tecnologia que simula sensação de toque.

Foto
Um dos projectos permite sentir fogo-de-artíficio LUSA/MIGUEL A. LOPES

Será possível, um dia, abraçar alguém através do ecrã? A covid-19 obrigou as pessoas a repensarem o toque nas interacções diárias com os outros e com o mundo. Em 2020, passou-se a aprender, pagar e até namorar mais através de ecrãs. E dispositivos que prometem recriar a sensação de toque ganharam destaque.

É o caso da tecnologia háptica, que simula o tacto. Há anos que universidades e gigantes da tecnologia como a Sony, Microsoft, Disney e Facebook têm equipas dedicadas à criação de produtos hápticos, mas até agora o mercado era considerado um nicho. “A pandemia de covid-19 levou a uma dependência da tecnologia háptica”, lê-se no relatório de Agosto de 2020 da analista MarketWatch. Aquela analista prevê que este mercado chegue aos 22 mil milhões de dólares (18,6 mil milhões de euros) nos próximos três anos. 

SMS para sentir na pele, fogo-de-artifício que se pode tocar e adesivos para simular um abraço são algumas das ideias que surgiram ao longo dos últimos cinco anos, mas que agora ganham mais interesse.

A Ímpar destaca algumas:

Segunda pele

E se existisse uma segunda pele, em forma de adesivo, para sentir objectos em realidade virtual? A proposta é de uma equipa de investigadores da Universidade Norwestern, nos Estados Unidos, e da Universidade Politénica, em Hong Kong, que está a desenvolver um tecido de silicone (com processadores e sensores) que permite ao utilizador sentir pequenas vibrações mecânicas na pele. 

A ideia foi apresentada em 2019. Um dos objectivos é recriar a sensação de ataques em jogos de realidade virtual, mas também serve para simular apertos de mão ou de ombro. Os investigadores sugerem uma videochamada familiar, em que a neta toca no braço da avó através do ecrã e esta, que está equipada com o dispositivo háptico, sente.

Foto
A segunda pele é de silicona e inclui vários sensores Northwestern University

“Comparativamente aos olhos e aos ouvidos, a pele é uma interface sensorial pouco explorada”, frisa a equipa no relatório do projecto, que foi publicado na revista académica Nature.

Fogo-de-artifício que se sente

Há vários anos que a Disney Research, a rede de laboratórios de investigação da Walt Disney Corporation, está a trabalhar num projecto para pôr pessoas a sentir fogo-de-artifício com as mãos. A missão é tornar os espectáculos “mais inclusivos” para todos, incluindo pessoas cegas ou com deficiência visual. 

Em 2017, surgiu o primeiro protótipo. A tecnologia é simples: um ecrã de látex (que as pessoas são convidadas a tocar) com uma série de jactos de água na parte de trás que são controlados por um computador e recriam a forma do fogo-de-artifício. Uma câmara da Microsoft Kinect (criada para seguir movimento) regista a forma como as pessoas interagem com o ecrã para ajudar o computador a adaptar o espectáculo. 

Foto
O protótipo parece um molde de gesso com oito sensores FACEBOOK RESEARCH

“Este trabalho apresentou um design de ecrã táctil que é económico e pode ser produzido em escala”, concluiu a equipa na apresentação do protótipo.

SMS à flor da pele

Um dos projectos da equipa de tecnologia háptica do Facebook é criar formas para receber mensagens na pele. Em vez de se lerem as palavras, a comunicação sente-se, permitindo que as pessoas passem menos tempo a olhar para ecrãs e tenham acesso a uma forma de comunicar que é mais discreta.

“É uma linguagem a que chamamos ‘transcutânea’, ou TLC, que transmite a representação da língua falada ou escrita no braço”, explica a equipa do Facebook num relatório divulgado em 2018. 

O primeiro protótipo, porém, era volumoso e lembrava um molde de gesso para um braço partido. Na parte de dentro tinha oito painéis sensoriais que, quando activados, produziam vibrações específicas que representam diferentes fonemas (sons básicos que formam as palavras numa linguagem). No futuro, os investigadores querem transformar o molde que cobre o antebraço num aparelho mais discreto, como uma pulseira ou relógio inteligente.

Sugerir correcção
Comentar