Cem sarcófagos com 2500 anos e quase intactos descobertos no Egipto

A arqueologia a sul do Cairo não pára, nem mesmo em tempos de pandemia. Últimos achados deixam os especialistas expectantes em relação ao que as equipas que trabalham no terreno podem estar prestes a encontrar.

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Reuters/MOHAMED ABD EL GHANY
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LUSA/Mohamed Hossam
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Necrópole Saqqara
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O aparato montado para a conferência de imprensa – cerca de 30 sarcófagos cuidadosamente dispostos numa espécie de palco criado para o efeito, com a pirâmide de degraus como cenário, frente a uma plateia com largas dezenas de lugares à espera dos muitos jornalistas de jornais e televisões egípcias e internacionais – não deixava dúvidas quanto à importância do que o Governo do Cairo se preparava para anunciar. 

Afinal, não é todos os dias que o Conselho Superior de Antiguidades egípcio pode apresentar ao mundo uma descoberta composta por, pelo menos, 100 sarcófagos praticamente intactos, alguns ainda por abrir e com múmias no interior, e 40 artefactos, entre eles esculturas de várias divindades, vasos canópicos (feitos para guardar vísceras embalsamadas) e máscaras funerárias. 

Este conjunto de peças, num estado de conservação que surpreende os especialistas, foi encontrado num dos mais de dez sítios de sepultamento já identificados em Saqqara, a necrópole da cidade de Mênfis, uma das antigas capitais do Egipto, 30 quilómetros a sul do centro do Cairo.

Falando aos jornalistas com a pirâmide construída no reinado do faraó Djoser no horizonte, Khaled El-Anany, ministro do Turismo e das Antiguidades – no Egipto a estrutura governamental não esconde que o primeiro depende das segundas – fez saber que estes sarcófagos e outros artefactos serão agora cuidadosamente estudados e, depois de tratados pelos técnicos de conservação e restauro, farão parte da exposição de, pelo menos, três instituições, incluindo o Grande Museu Egípcio, em Guiza, cuja construção conheceu sucessivos atrasos e que tem agora inauguração prevista para o próximo ano.

Os sarcófagos serão do período ptolemaico, dinastia macedónia que governou o Egipto entre cerca de 320 a.C. e 30 a.C., e da época imediatamente anterior, que começa em 664 a.C. e que termina precisamente com a conquista daquele território por Alexandre, o Grande (mais tarde legado a um dos seus generais, Ptolemeu), escreve a agência de notícias Associated Press, citando o ministro do Turismo e das Antiguidades.

Mostafa Waziri, secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades, explicou na conferência de sábado, que, pela qualidade da execução e pelo óptimo estado de conservação em que se encontram os corpos, estes sarcófagos terão sido feitos para pessoas de classes sociais abastadas, ao contrário da maioria dos encontrados em Outubro

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“O nível de vida [corresponde a] pessoas de uma posição elevada e é por isso que as condições em que se encontram os féretros não são iguais às dos que anunciámos em Outubro”, disse Waziri, segundo o diário espanhol El País. “Se [em Outubro] estávamos perante o sarcófago de um sacerdote, aqui estamos perante o de um alto-sacerdote.”

Na conferência os arqueólogos e outros cientistas abriram um dos sarcófagos e submeteram a múmia que guardava a exames de raio-X, dando aos jornalistas e aos outros convidados presentes a possibilidade de verem como o corpo era preparado antes de ser deposto no túmulo.

As radiografias indicaram, por exemplo, tratar-se de um indivíduo do sexo masculino, com mais de 30 anos e menos de 60, e com cerca de 1,60 metros de altura. “Todos os órgãos foram retirados, à excepção do coração”, acrescentou um dos elementos da equipa científica, mostrando uma imagem de raio-X.

Waziri disse ainda, de acordo com a televisão britânica BBC, que o número de sarcófagos agora localizados é também muito significativo e que alguns, assim como muitas das máscaras funerárias com eles encontradas, têm decorações a ouro. “Acreditamos que havia aqui [em Saqqara] uma oficina de construção de sarcófagos de madeira, que ainda não localizámos. Talvez em 2021…”, estimou o secretário-geral, optimista.

Saqqara, um dos locais mais intensamente escavados no país ao longo das últimas décadas, tem estado no centro das mais recentes descobertas anunciadas pelo Governo egípcio. Desde Setembro cerca de 140 sarcófagos, muitos ainda selados, viram a luz do dia

“Saqqara tem ainda muito a revelar. É um tesouro”, disse o ministro Khaled El-Anany, aqui citado no site da televisão Al Jazeera. “As escavações continuam. Sempre que esvaziamos um poço funerário encontramos a entrada para outro.”

O secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades confirmou: “Encontrámos outros poços cheios de sarcófagos, bem dourados, bem pintados, bem decorados.”

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Nos últimos meses o Egipto tem vindo a intensificar o lado já de si espectacular dos seus anúncios de novas descobertas arqueológicas na tentativa de estimular a indústria do turismo que, nos últimos dez anos, em grande parte devido à instabilidade política e, agora, também à pandemia de covid-19, sofreu duros golpes. 

É natural, por isso, que o ministro do Turismo e das Antiguidades não se canse de tentar manter a curiosidade dos potenciais visitantes internacionais – “Supunha que esta seria a última descoberta de 2020, mas na passada quinta-feira recebi um telefonema do [arqueólogo e antigo secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades Zahi] Hawass, que me disse: ‘Desculpa, mas este não vai ser o último anúncio de 2020 porque acabo de fazer hoje uma nova descoberta em Saqqara’”, contou Khaled El-Anany. 

Quem acompanha a actualidade noticiosa relativa à arqueologia no Egipto sabe bem que dificilmente haverá egiptólogo mais dado a anúncios bombásticos do que Zahi Hawass, muitas vezes recebidos com grande cepticismo pela comunidade científica internacional, mas o melhor é esperar até ao final de Dezembro.

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