Presidente da FPF admite que Rui Pinto possa ter contribuído para verdade desportiva

“A informação obtida de forma ilegal não devia ter sido divulgada. Ponto. Agora tenho de admitir que essa actuação possa ter tido alguma influência positiva em matéria de verdade desportiva”, declarou Fernando Gomes no julgamento de Rui Pinto.

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“A informação obtida de forma ilegal não devia ter sido divulgada. Ponto.”, disse Fernando Gomes LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, não vê problema nenhum em que os contratos dos jogadores com os clubes passem a ser divulgados, ao contrário do que sucede actualmente, em que são mantidos em sigilo.

Inquirido sobre o que pensava deste assunto no julgamento do pirata informático Rui Pinto, depois de, em 2018, o hacker se ter introduzido no sistema informático da FPF e roubado informação de vária ordem, Fernando Gomes não hesitou: “Não tenho problema nenhum em aceitar a divulgação total dos contratos dos jogadores”.

De acordo com o Ministério Público, a 1 de Março de 2018 Rui Pinto se introduziu no sistema informático da FPF, efectuando 48 acessos a vários servidores. “Procedeu a pesquisas exaustivas em vários directórios e ficheiros dos computadores e exfiltrou parte da informação que encontrou”, nomeadamente uma lista de contactos dos árbitros e vários outros documentos confidenciais, como os que diziam respeito à avaliação e nomeação dos árbitros, refere a acusação.

Além disso, “apoderou-se das credenciais de acesso de um funcionário desta organização para aceder a uma plataforma digital denominada Score onde são inseridas as inscrições efectuadas pelos clubes na FPF e referentes às modalidades de futebol, futsal e futebol de praia”. 

Relatando o desconforto que sucedeu relativamente à devassa informática, que não deixou rasto visível e do qual só deu conta ano e meio depois, quando foi alertado para o sucedido pela Polícia Judiciária, o mesmo dirigente recorreu a uma comparação que outras vítimas do pirata informático também já tinham usado em sessões anteriores do julgamento: “Foi como se a nossa casa estivesse a ser roubada, com os nossos bens”.

A publicitação dos contratos de dois jogadores com o Benfica, Castillo e Ferreyra, deixou os dirigentes da FPF de pé atrás, ao ponto de ter apresentado queixa contra desconhecidos na Polícia Judiciária. “Mas ficámos na dúvida se teria havido intrusão no nosso sistema informático”, recordou Fernando Gomes.

Assinados em 2018, os contratos de Castillo e Ferreyra foram divulgados pelo blogue Mercado de Benfica, alegadamente da responsabilidade de Rui Pinto. Os encargos dos encarnados com a dupla chegaram aos 40 milhões de euros.

Sobre eventuais impactos positivos que possa ter desencadeado a actuação de Rui Pinto, o principal responsável da FPF respondeu: “A informação obtida de forma ilegal não devia ter sido divulgada. Ponto. Agora tenho de admitir que essa actuação possa ter tido alguma influência positiva em matéria de verdade desportiva”.

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