Johnny Depp perdeu batalha judicial contra o The Sun: “Espancador de esposa” não é difamação, considerou juiz
Depp acusava o tablóide de difamação caluniosa por o ter apelidado de “espancador de esposa” e o Supremo Tribunal de Londres deliberou, esta segunda-feira, que o rótulo não era falso.
Um juiz do Supremo Tribunal de Londres deliberou contra Johnny Depp, numa sentença conhecida esta segunda-feira, no caso em que o actor acusava o jornal The Sun de difamação caluniosa por o ter descrito como “espancador de esposa”. Isto porque, segundo o magistrado, ficou provado que, de facto, a estrela da saga Piratas da Caraíbas agrediu repetidamente a sua ex-mulher, a actriz Amber Heard, que chegou a temer pela sua vida.
“Tive em conta que a grande maioria das alegadas agressões da sr.ª Heard pelo sr. Depp foram provadas”, disse o juiz Andrew Nicol. Por isso, “o requerente não teve êxito na acção por difamação”.
O The Sun considerou a decisão desta segunda-feira uma “vitória espantosa” para a liberdade de imprensa. “As vítimas de violência doméstica nunca devem ser silenciadas e agradecemos ao juiz pela sua cuidadosa consideração e a Amber Heard pela sua coragem em testemunhar perante o tribunal”, lê-se numa declaração do jornal, tornada pública na notícia sobre o sucesso judicial.
A decisão promete abalar seriamente não só a vida como a carreira de Depp, uma vez que volta a pô-lo no papel de agressor da sua ex-mulher, com quem terá tido um tempestuoso relacionamento ao longo de cinco anos, que culminou num mediático divórcio, assinado em Agosto de 2016, depois de a mulher ter retirado as acusações de violência doméstica — ainda que a “novela” Depp/Heard se tivesse prolongado, com outras acções judiciais e acusações mútuas.
No meio deste filme, o jornal The Sun publicou um extenso artigo, em 2018, assinado pelo jornalista Dan Wootton, em que expunha a violência com que Depp, de 57 anos, terá tratado Amber Heard, de 34. O actor não gostou e processou o grupo News Group Newspapers, os editores do The Sun e o autor do artigo.
Queixas retiradas
Em Julho e ao longo de três semanas, o Supremo Tribunal de Londres ouviu os testemunhos de Depp e de Amber Heard. Ambos falaram sobre o casamento apaixonado e responderam sobre os alegados casos extraconjugais. No processo foi ainda explorado o estilo de vida hedonista de Johnny Depp e a sua luta contra a dependência do álcool e de drogas.
Amber contou que Depp se transformava num “monstro” quando sob o efeito de drogas e álcool, tendo muitas vezes ameaçado matá-la — a actriz reviu em detalhe 14 ocasiões de extrema violência, em que acusou o actor de a ter asfixiado, esmurrado, esbofeteado, estrangulado e pontapeado.
O actor refutou as acusações, afirmando que nunca tinha sido violento para com a sua ex-mulher, acusando-a mesmo de ter sido responsável por ele ter perdido a ponta de um dedo, quando lhe atirou com uma garrafa no meio de uma violenta discussão. Mas, na sequência desse episódio, a actriz relatou que viveu uma “situação de sequestro” ao longo de três dias. Depp pronunciou-se sobre o assunto em tribunal, dizendo: “Essas alegações doentias são completamente falsas.”
Porém, o juiz Andrew Nicol considerou que as alegações do jornal eram “substancialmente verdadeiras”. Nicol disse que aceitou 12 dos relatos de Amber Heard, incluindo a descrição de uma provação de três dias de “agressões sustentadas e múltiplas”.
Johnny Depp e Amber Heard conheceram-se em 2009, nas filmagens da longa-metragem O Diário a Rum. Os dois casaram, numa cerimónia privada, em 2015. Mas, apenas um ano depois, a actriz entrava com o pedido de divórcio, tendo conseguido uma ordem de restrição temporária contra o actor, que acusou de abusos verbais e físicos. Depp negou sempre essas acusações e, através dos seus representantes, alegou que Amber Heard estaria em busca de uma compensação financeira.
Depois de alguns tumultos, Heard retirou as queixas de violência doméstica e o ex-casal emitiu uma declaração conjunta em que dizia que a “relação era intensamente apaixonada e por vezes volátil, mas sempre ligada pelo amor”. “Nenhuma das partes fez falsas acusações por ganhos financeiros. Nunca houve qualquer intenção de dano físico ou emocional”, declararam. Na altura, Depp pagou à ex-mulher sete milhões de dólares que a actriz doou à União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla original) e ao Hospital Infantil de Los Angeles.
Porém, a resolução do Supremo de Tribunal de Londres abriu a porta a mais desenvolvimentos. A advogada norte-americana de Heard, Elaine Charlson Bredehoft, disse, numa declaração: “Muito em breve, apresentaremos provas ainda mais volumosas nos EUA. Estamos empenhados em obter justiça para Amber Heard no Tribunal dos EUA e em defender o direito à liberdade de expressão da sr.ª Heard.”
Enquanto isso, Depp intentou um processo de difamação contra a ex-mulher, no valor de 50 milhões de dólares, num tribunal do estado norte-americano da Virgínia. Em causa está um artigo de opinião que ela escreveu para o The Washington Post.