Olafur Eliasson quer pôr-nos a sentir o aquecimento global em cima de um glaciar

Numa plataforma envolta por uma espécie de esfera armilar, o visitante é convidado a acompanhar o movimento da Terra ao longo do dia e a tomar consciência do aquecimento global. Obra de Elafur Eliassion nos Alpes italianos é “um dispositivo óptico que nos convida ao envolvimento”.

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No topo do glaciar Hochjochferner, nos Alpes italianos, está o mais recente trabalho do artista dinamarquês com origens islandesas Olafur Eliasson, que convida os visitantes a verem as alterações climáticas provocadas pelo ser humano a partir de “perspectivas planetárias e glaciares” mais amplas.

A instalação foi concebida para parecer uma esfera armilar — objecto que representa um modelo do universo. Os anéis são feitos em aço e vidro azul e estão dispostos em redor de um plataforma circular, onde o visitante é convidado a entrar. A pessoa que estiver no centro da plataforma poderá marcar a linha do horizonte e os pontos cardeais, assim como acompanhar o movimento da Terra ao longo do dia.

Our Glacial Perspectives” (“As Nossas Perspectivas Glaciares”, numa tradução livre para português) tem como objectivo que as pessoas tomem consciência do aquecimento global e que este deixe de ser um conceito abstracto, passando a algo tangível.

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Para chegar à obra, o visitante deve fazer um percurso de 410 metros ao longo do glaciar, através de nove arcos de metal. Cinco destes arcos são brancos e representam as cinco eras glaciares na história da Terra; os outros quatro, pretos, demarcam os períodos que as intercalaram. Este caminho pelo gelo alpino está pensado para funcionar como uma linha cronológica da Terra.

“O local coloca o visitante em contacto com um glaciar que está directamente ameaçado pelas alterações climáticas”, explicou Sebastian Behmann, chefe do departamento de design do Studio Olafur Eliasson, à plataforma Dezeen. “Há muitas provas que sugerem que a experiência directa é mais eficaz para nos convencer da realidade das alterações climáticas do que ler sobre algo distante.”

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Para o artista, a obra é “um dispositivo óptico que nos convida ao envolvimento, a partir da nossa posição consagrada, com perspectivas planetárias e glaciares”.

Desde meados do século XIX, os glaciares alpinos já perderam 40% da sua superfície e metade do seu volume, o que resulta numa redução na capacidade de reflexão da luz solar de volta para o espaço e numa consequente aceleração do aquecimento. O Governo suíço alerta, aliás, que 90% dos perto de 1500 glaciares que ainda resistem podem desaparecer até ao fim do século XXI.

Eliasson já tem um historial na abordagem das alterações climáticas no seu trabalho, nomeadamente através da instalação de blocos de gelo nas ruas de Londres. Mais recentemente, desenvolveu também uma aplicação de realidade aumentada que permite que as crianças falem em nome do planeta.

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