Por ar, terra e mar. Expedição científica vai estudar biodiversidade do Porto Santo
Expedição MARE@Porto Santo 2020 junta 25 investigadores que durante uma semana vão fazer uma caracterização do mar de ilha do arquipélago da Madeira, incluindo os impactos da maré negra pelo petroleiro espanhol Aragón em 1990.
São sete dias por terra, mar e ar. São 25 investigadores de sete nacionalidades. São duas embarcações, drones, um ROV (veículo submarino operado remotamente) que opera até aos 150 metros de profundidade e, ainda, um submersível que mergulha aos mil metros. João Canning Clode, investigador principal do pólo da Madeira do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, não esconde o entusiasmo. “É a primeira grande expedição científica no Porto Santo. Está a ser pensada há vários anos, e finalmente vai acontecer”, diz ao PÚBLICO o biólogo João Canning Clode na véspera do arranque da expedição MARE@Porto Santo 2020, que começou no domingo naquela ilha do arquipélago madeirense. “O Porto Santo é mesmo aqui ao lado, e não tem havido muito trabalho científico na ilha.”
O objectivo, resume o coordenador do pólo coordenador do MARE Madeira, é fazer uma caracterização por multicamadas da biodiversidade marinha do Porto Santo. Para tal, os investigadores – todos residentes no MARE Madeira, oriundos de Portugal, Alemanha, Áustria, Itália, França, Tunísia e Espanha – serão divididos em vários grupos.
“Teremos equipas desde o ar até ao fundo do mar.” Uma, com drones, irá para mapear os habitats. Um grupo de ecologia dedicar-se-á em exclusivo aos cetáceos. Outra equipa estará nas praias e zonas intermarés, para fazer amostragens da biodiversidade, e ainda outras estarão dedicadas à recolha do lixo marinho, para procurar perceber o impacto da pressão humana nas comunidades biológicas.
Essa preocupação, no caso do Porto Santo, reveste-se de especial importância, e até urgência. Fez 30 anos exactos a 16 de Janeiro que a costa do Porto Santo foi atingida por uma maré negra, que teve origem num acidente envolvendo o petroleiro espanhol Aragón, que resultou num derrame de 25 mil toneladas de petróleo bruto. A ilha do Porto Santo foi a mais atingida pela maré negra, o petróleo chegou ainda à costa Norte da ilha da Madeira. O impacto no ecossistema da mancha de crude ainda não foi devidamente avaliado. “Já foi feito algum trabalho, mas muito pouco, e não com estas dimensões”, explica João Canning Clode.
E porque só agora? “O MARE Madeira tem agora o músculo necessário para fazer uma coisa destas, tem os investigadores com formação académica especializada nestas áreas, tem o equipamento e o financiamento”, justifica o investigador, dizendo que a expedição científica vai também ter equipas de mergulho aos dez e aos 20 metros, com a preocupação de fazer censos à biodiversidade dos mares do Porto Santo.
O trabalho vai ser auxiliado por um ROV do pólo MARE Madeira e por um submersível da Fundação Rebikoff-Niggeler, com sede nos Açores, parceira da expedição, que vai mergulhar até aos mil metros de profundidade.
“Será o primeiro mergulho deste género no Porto Santo.” Será também uma oportunidade para o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, voltar a mergulhar numa expedição. O governante, adianta João Canning Clode, vai estar presente no Porto Santo, e é quase certo que fará um mergulho com a equipa de investigadores, no próximo sábado, 17 de Outubro.
“O senhor ministro é também um investigador. Foi o orientador científico de alguns membros da nossa equipa, incluindo eu próprio, e manifestou vontade de mergulhar connosco”, enquadra o coordenador do MARE Madeira, acrescentando que o secretário regional do Mar e Pescas madeirense, Teófilo Cunha, é também adepto do mergulho, e deverá juntar-se à expedição nesse dia.
O executivo madeirense é um dos parceiros do MARE@Porto Santo 2020, que decorre até 18 de Outubro. A directora regional do Mar, Mafalda Freitas, também investigadora do MARE, considerou fundamental este trabalho científico, para a tomada de decisões políticas. Importância também ao nível da literacia dos oceanos para a população. Por isso, na manhã do último dia da expedição vai decorrer numa unidade hoteleira do Porto Santo, uma palestra aberta, onde serão exibidas imagens do trabalho desenvolvido durante a semana, com a presença dos investigadores.
Depois, da expedição vão nascer dois produtos de divulgação científica: um documentário televisivo e a publicação bilingue (português e inglês) Porto Santo Debaixo de Água. “O mais imediato”, remata João Canning Clode, “será um vídeo de divulgação do MARE@Porto Santo 2020, para ser ‘consumido’ nas redes sociais”.