Óscares impõem representatividade nos candidatos a Melhor Filme (mas só a partir de 2024)
Para serem elegíveis, os títulos deverão cumprir vários critérios. Mulheres, pessoas com deficiência, minorias raciais e pessoas LGBTQ+ terão de estar representados tanto no elenco como na equipa técnica, artística e de produção.
Nos Óscares, a transformação continua em curso. Tem sido assim desde 2015, ano em que a etiqueta Oscars So White (Óscares Tão Brancos), lançada nas redes sociais em protesto pelo facto de apenas dois não-brancos figurarem entre os nomeados para as categorias mais importantes, se converteu numa exigência de maior representatividade na Academia. Cinco anos depois, chega o anúncio: a partir dos Óscares de 2024, os candidatos a Melhor Filme terão de cumprir quatro critérios de representatividade para serem elegíveis, relativos à presença, à frente e atrás das câmaras, de grupos de pessoas habitualmente sub-representadas. A Academia refere explicitamente mulheres, portadores de deficiência, não-brancos e pessoas LGBTQ+.
O anúncio chegou nesta terça-feira num comunicado assinado pelo presidente da Academia, David Rubin, e pela sua CEO, Dawn Hudson. Nele, afirmam que “a abertura deve alargar-se para reflectir a diversidade da população global tanto na criação dos filmes como no público que se liga a eles”. É convicção da Academia que estes “padrões de inclusão serão um catalisador para uma mudança essencial e duradoura na indústria”.
Foram definidos quatro sectores em que as novas regras serão consideradas: o elenco, a equipa técnica, a equipa de profissionais no estúdio e a formação de novos profissionais. Para ser elegível, o filme terá de cumprir os critérios agora definidos em pelo menos dois dos quatro sectores.
As novas regras, inspiradas nas normas para a diversidade do British Film Institute, em articulação com a Guilda de Produtores americanos, são detalhadas com minúcia. Segundo escreve o Guardian, será obrigatório, por exemplo, que o elenco inclua pelo menos um actor principal ou um actor secundário de relevo de uma minoria racial, que 30% dos papéis secundários sejam atribuídos a actores de grupos habitualmente sub-representados, ou que o filme se centre numa narrativa ligada a esses grupos. Critérios semelhantes são aplicados aos departamentos técnicos e criativos associados à produção do filme, aos estágios de jovens profissionais e aos departamentos de marketing, publicidade e distribuição.
Nas candidaturas aos Óscares de 2022 já será obrigatória a submissão de um formulário confidencial relativo aos “Critérios de Inclusão da Academia”, ainda que este só comece a ser tido em conta para a selecção a partir de 2024. A próxima cerimónia, relativa à 93.ª edição dos Óscares, está marcada para Abril de 2021 — habitualmente realizada em Fevereiro, foi adiada dois meses em consequência da pandemia de covid-19.
A exigência de uma representatividade mais abrangente e mais adequada à realidade social não produziu efeitos apenas na Academia de Hollywood e vem-se manifestando de formas diferentes. No final de Agosto, o Festival de Berlim anunciou que deixará de dividir os seus prémios de representação em géneros. A partir da edição de 2021, que decorrerá em Fevereiro, as categorias de Melhor Actor/Melhor Actriz (que até aqui distinguiam intérpretes em papéis principais ou secundários) darão lugar às categorias de Melhor Interpretação Principal e Melhor Interpretação Secundária. “Acreditamos que não dividir os prémios na área da interpretação de acordo com o género dá à indústria cinematográfica um sinal para uma maior consciencialização em relação às questões de género”, afirmaram os directores da Berlinale, Mariette Rissenbeck e Carlo Chatrian, citados pela Deadline.
Notícia corrigida: o palmarés do Festival de Berlim nunca contemplou as categorias de Melhor Actor Secundário e de Melhor Actriz Secundária