O clima é “favorável” e os contágios aumentam em Portugal. Cada infectado contagia uma pessoa
O número médio de contágios a que um infectado dá origem aumentou não só a nível nacional, mas também em quase todas as regiões do país. Norte e Centro têm “tendência de crescimento sustentado da incidência de infecções”, diz o INSA.
O índice de transmissão (Rt) da covid-19 em Portugal está acima de 1 desde o início de Agosto, o que revela “uma tendência crescente de novos casos ao nível nacional”. Na última semana, este valor situou-se em 1,05, um aumento em relação aos 1,01 da semana anterior. As conclusões são do relatório publicado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que tem feito uma análise semanal deste indicador. Além da subida a nível nacional, estes números também aumentaram em quase todas as regiões do país, à excepção do Alentejo.
O R é um dos indicadores utilizado a nível internacional para perceber a capacidade de contágio de uma doença e subdivide-se em R0 e Rt. O valor de R0 (lê-se zero) mede o número de contágios que acontecem quando a doença tem condições para se disseminar, sem qualquer medida de confinamento, e é calculado logo no início da epidemia.
Já o valor de Rt (ou efectivo) é relevante nas fases posteriores da epidemia, depois de aplicadas as medidas para conter a propagação da doença e quando o número médio de contactos que um doente infeccioso tem começa a diminuir. Este número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado, medido em função do tempo, deve ser calculado ao longo da epidemia e pode ser usado para medir a efectividade das medidas de contenção e atraso.
Na prática, se este valor for igual a 1 quer dizer que uma pessoa infectada vai dar origem a outro caso de infecção. Caso esteja acima de 1, o número de casos irá aumentar; se for inferior a 1, haverá uma diminuição das infecções.
Além do aumento do número médio de contágios por infectado a nível nacional, há regiões do país que, pela subida de casos das últimas semanas, foram destacadas no relatório. Segundo o INSA, o Norte apresenta valores de Rt superiores a 1 nos últimos 30 dias e tem tido, diariamente, uma média de 80 novos casos. Das 401 novas infecções registadas esta sexta-feira, por exemplo, 166 (41%) foram diagnosticadas na região Norte e 182 (45%) na região de Lisboa e Vale do Tejo. “Este resultado sugere uma tendência de crescimento sustentado da incidência de infecções por SARS-CoV-2”, lê-se no relatório.
Na última semana, mais concretamente entre 19 e 28 de Agosto, o Rt da região Norte situou-se nos 1,11, um aumento em relação aos 1,01 da semana anterior. Há cerca de um mês, este indicador situava-se em 0,85 — o valor mais baixo desde que o INSA começou a divulgar estas informações.
E à semelhança da região Norte, também o Centro apresenta valores de Rt superiores a 1 nos últimos 14 dias, com cerca de 19 novas infecções por dia, o que “sugere também um período de crescimento sustentado da incidência de infecções por SARS-CoV-2”. Esta região teve, aliás, o índice de contágios mais elevado do país na última semana: 1,18, uma subida face aos 1,14 da semana anterior.
Em Lisboa e Vale do Tejo, região que a par do Norte tem registado a maior parte dos casos diários do país, foi também detectado um aumento deste indicador, que se situa agora em 1 (estava em 0,96 na semana anterior). Também o Algarve parece estar a seguir uma trajectória crescente: o índice de contágio nesta região é de 1,13 (face aos 0,96 da semana anterior).
Numa tendência inversa, a região do Alentejo registou um decréscimo do número médio de contágios por infectado. Este indicador está agora abaixo de um (0,96) quando na semana entre 11 e 15 de Agosto era de 1,35.
A nível nacional, desde o início da epidemia, a estimativa do R(t) variou entre 0,81 e 2,38, observando-se uma tendência de decréscimo desde o dia 12 de Março (anúncio do fecho das escolas), com quebras mais acentuadas a 16 de Março (fecho das escolas) e a 18 de Março (anúncio do estado de emergência).
“Clima favorável” para aumento de casos
Nos últimos dias, Portugal tem vindo a registar um número crescente de novos casos diários de infecção pelo novo coronavírus: nas últimas 24 horas foram detectados 401 novos casos, o maior aumento desde 10 de Julho.
Desde 24 de Agosto que o número de novos casos tem vindo a subir. A directora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou esta sexta-feira que é ainda cedo para tentar explicar a subida do número de casos nos últimos dias, mas garante que “faz parte da dinâmica da infecção e há um aumento da actividade deste vírus em toda a Europa”. Um dos possíveis motivos é “a actividade normal das pessoas, incluindo turismo e emigrantes que vêm visitar as suas famílias”.
Há um “clima favorável” que pode explicar a subida de casos, admitiu. “Estes casos têm-se mais do que disseminado na comunidade e têm constituído surtos, muitas vezes familiares, surtos que são em instituições e surtos que são em empresas ou locais de trabalho. Serão as explicações para este aumento de casos, que não tem sido exponencial”, afirmou. “A nossa preocupação é não termos mecanismos, uma vacina, um medicamento. Não vamos conseguir ter casos zero, vamos ter aumentos e reduções, temos é de manter a situação controlada para o tal equilíbrio.” Ainda assim, a directora-geral da Saúde acautela que nada é certo: “Vamos ver os próximos dias para ver se esta tendência se mantém ou não.”
Graça Freitas reconhece que as medidas de desconfinamento e, em particular, a reabertura das fronteiras, poderão criar um contexto que potencie a infecção. “Estamos a tentar o equilíbrio entre medidas de segurança e de saúde pública, mas também medidas de retoma da vida normal das pessoas”, afirmou.
A directora-geral da Saúde disse ainda que há, agora, uma maior movimentação e contacto entre pessoas, incluindo entre cidadãos de diferentes países, onde a situação epidemiológica também tem piorado, mas assegurou que o aumento do número de casos confirmados não tem sido exponencial e que está a ser atentamente acompanhado pelas autoridades de saúde.