Novo método capaz de medir impulsos laser pode ser útil no tratamento do cancro

Terapias para o cancro podem ser uma das aplicações do método.

Foto
O investigador Helder Crespo (à direita) durante uma visita em 2019 de Gérard Mourou (ao centro), Prémio Nobel da Física de 2018, à Sphere Ultrafast Photonics, no Porto DR

Um método que permite medir “com grande precisão” impulsos laser ultra intensos e que pode ser útil no tratamento do cancro foi desenvolvido por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Publicado na revista Optica, da Sociedade de Óptica, o estudo tem por base um método que pela primeira vez” mede os impulsos produzidos pelos “lasers mais avançados da actualidade”, avança a FCUP em comunicado.

Helder Crespo, investigador da FCUP e primeiro autor do artigo, afirma que esta nova técnica permite medir os impulsos laser “onde ocorrem processos extremos muito importantes”, como as reacções nucleares. “Funciona como uma espécie de lupa para vermos fenómenos extremos, permitindo-nos tocar no fogo sem nos queimarmos”, refere o investigador, citado no comunicado, acrescentando que o novo método permite também “conhecer e optimizar os impulsos directa e indirectamente e exactamente na zona onde estão a incidir”.

De acordo com a FCUP, este novo método pode ser útil no tratamento do cancro, uma vez que estes lasers ultra-intensos são capazes de “acelerar protões e de produzir isótopos radioactivos” aplicados em terapias de combate à doença. “Com esta nova técnica será possível tirar o melhor proveito destes lasers que têm múltiplas aplicações em áreas que vão desde a biologia à química, podendo até mesmo, no caso particular do cancro, vir a revolucionar o tratamento desta doença”, assegura a instituição.

Helder Crespo, também fundador da spin-off Sphere Ultrafast Photonics da FCUP, salienta ainda que este método, intitulado THIS d-scan, permitirá “validar teorias muito recentes sobre a interacção laser-matéria”.

Esta técnica, frisa o investigador, traz assim “muitas vantagens” quando comparada com as técnicas tradicionais que “apenas conseguem medir uma réplica atenuada do impulso principal numa zona que não a da amostra, o que introduz erros e não permite capturar todos os efeitos físicos necessários”.

Os investigadores vão agora usar alguns dos sistemas laser mais intensos do mundo para mostrar a “versatilidade e capacidade” deste novo método, nomeadamente, a sua capacidade para detectar e medir as alterações que o impulso sofre no próprio alvo durante o processo de interacção da luz com a matéria.

Além de investigadores da FCUP, o estudo contou também com a participação de especialistas do Instituto de Física dos Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica da Universidade do Porto, do Instituto Max-Born, na Alemanha e do Imperial College de Londres, no Reino Unido.