Bastonário dos Médicos defende que se deve “pensar seriamente” sobre uso de máscara na rua

“É uma medida polémica, corajosa por parte do governo da Madeira, mas é uma medida que outros países já implementaram”, aponta Miguel Guimarães. Especialistas em saúde dividem-se.

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Na Madeira, a medida está em vigor desde 1 de Agosto HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defende que se deve “pensar seriamente” sobre o uso obrigatório de máscara em todo o espaço público, incluindo nas ruas, medida já implementada na Madeira.

“Acho que devíamos pensar seriamente nesta medida. É uma medida polémica, corajosa por parte do governo da Madeira, mas é uma medida que outros países já implementaram”, apontou Miguel Guimarães, em entrevista à SIC Notícias esta sexta-feira à noite.

O bastonário indica as “boas condições” que há neste momento para esta opção: “Temos as escolas fechadas; estamos numa altura de calor, com radiação ultravioleta elevada; e temos as pessoas mais isoladas umas das outras, neste momento ainda há muita gente em teletrabalho, ainda há algum isolamento social natural.”

Por isso, considera que é preciso “aproveitar este momento para implementar todas as medidas possíveis”, com o objectivo de controlar a propagação da doença e “evitar que ela tenha um impacto grande no Inverno”. “Este é o momento de pensar nessas medidas e implementá-las”, concluiu.

Madeira é a única região do país com máscara obrigatória no exterior

O uso de máscara nas ruas passou a ser obrigatório na Madeira a 1 de Agosto. “É uma medida preventiva. Uma atitude pioneira”, classificou Pedro Ramos, secretário regional da Saúde, aquando da divulgação da decisão.

O responsável não especificou o enquadramento legal da medida, dizendo apenas que a fiscalização é feita pelas forças de segurança e pela Autoridade Regional das Actividades Económicas. “Está em causa a defesa da saúde pública. Todos os cidadãos devem ter a responsabilidade de não contaminar o próximo”, defendeu.

Em entrevista ao PÚBLICO este sábado, o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, argumenta que é necessário “adoptar todas as medidas de prevenção, no sentido de evitar a proliferação da doença”. “Nós não temos um polícia em cada esquina”, garante.

“Uma pessoa que é portadora do vírus pode ser comparada a um bombista, porque, neste caso sem querer ou saber, pode infectar 100, 200 ou 300 pessoas. Nós temos de condicionar esse potencial foco de infecção, no sentido de salvaguardar a saúde dos outros e a vida dos outros”, considera Miguel Albuquerque.

De visita à ilha do Porto Santo, na Madeira, o Presidente da República comentou esta sexta-feira a sua própria opção. “Assumi o compromisso de, quando ando na rua, desde sempre usar máscara. Portanto, é a minha maneira de ser. Mesmo quando não era obrigatório – e não é obrigatório no continente – eu uso”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.

Especialistas dividem-se

Em Julho, o PÚBLICO questionou vários especialistas sobre se devia ou não ser obrigatório o uso de máscara na rua, e as opiniões dividem-se.

O pneumologista Filipe Froes é um dos especialistas que defendem esta opção. “Neste momento, em face das evidências que existem e da dificuldade que temos em controlar as cadeias de transmissão, tendo em conta a possibilidade de as pessoas assintomáticas poderem perpetuar a transmissão na comunidade, devemos adoptar todas as medidas para maximizar o controlo da situação e isso passa pela obrigatoriedade do uso de máscara em todas as situações”, referiu.

Por outro lado, o coordenador da comissão de Controlo de Infecções e Resistência aos Antimicrobianos da Luz Saúde e do Hospital Beatriz Ângelo, Carlos Palos, considera que não deve haver obrigatoriedade: “Tendencialmente, e sobre a utilização obrigatória em espaços públicos, a minha resposta é não.” No entanto, salienta, “poderá haver circunstâncias associadas à própria pessoa e à sua saúde, à densidade populacional e a taxas de transmissão em determinado sítio que podem levar a uma decisão pontual diferente”.

Para Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, esta é uma “questão complexa”. “Como medida generalizada ao país é excessivo, embora reduza o risco. As pessoas devem é ter informação necessária para ter comportamentos seguros e saudáveis”, disse ao PÚBLICO.

Questionada sobre este tema, em Julho, numa das conferências de imprensa sobre a evolução da pandemia, a ministra da Saúde salientou que já houve “muitas oportunidades de discussão sobre este tema” e que a máscara “não é uma barreira definitiva, mas sim uma barreira complementar”.

“Não sentimos, neste momento, necessidade de adopção de outras medidas. Mas estamos a falar de temas que têm tido grande evolução ao longo do tempo e estão naturalmente em aberto”, acrescentou Marta Temido.

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