A pandemia de covid-19, que obrigou ao confinamento e a um grande número de restrições, está a ter um impacto significativo no estado de saúde mental dos jovens. Os mais velhos, aqueles em que se concentra a maior taxa de mortalidade, parecem estar a lidar melhor com a adversidade e sentem-se menos afectados.
Globalmente, a maior parte do total das pessoas que responderam ao inquérito feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (Cesop) da Universidade Católica para o PÚBLICO e para a RTP diz que o seu estado de saúde mental não se alterou com a pandemia, apesar de uma franja considerável, perto de um terço, se sentir pior.
A sensação de que o estado de saúde mental se deteriorou nestes meses singulares é mais prevalecente nas mulheres do que nos homens, mas é entre os mais jovens (dos 18 aos 24 anos) que os efeitos da pandemia no estado psíquico estão a ser mais perniciosos. No total, responderam 1217 pessoas ao inquérito feito entre os dias 13 e 17 deste mês.
Quase metade dos jovens entre os 18 e os 24 anos considera que o seu estado de saúde mental se agravou nos últimos meses, enquanto, entre os mais velhos (65 ou mais anos), apenas 17% dizem sentir-se pior do que antes da pandemia.
Um fenómeno que já tem sido, aliás, detectado e assinado noutros estudos, com os idosos a revelarem-se menos afectados, tanto no que se refere a sintomas de depressão como de ansiedade e stress. Talvez porque, como especulam os investigadores, já passaram por períodos muito complicados antes, o que lhes permite relativizar a situação actual.
O impacto da pandemia no estado de saúde físico é substancialmente inferior. Apenas 15% dos inquiridos dizem que agora se sentem pior, enquanto quase quatro quintos passaram incólumes por estes meses conturbados e 6% até se estão a sentir melhor. A este nível, são os mais jovens e os mais velhos que mais se queixam e as mulheres bem mais do que os homens, um padrão já igualmente encontrado em inquéritos anteriores.
Resposta a segunda vaga gera dúvidas
A resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à pandemia merece globalmente nota positiva nesta sondagem. Apesar de ter estado debaixo de fogo nas últimas semanas, depois de uma primeira fase de grandes elogios, globalmente, os inquiridos defendem, do que constatam e têm observado nas notícias, que a resposta do SNS tem sido positiva e nem sequer se percepcionam diferenças assinaláveis entre os diversos sectores da sociedade nesta matéria. Mais de metade respondem que a forma como o SNS está a responder à pandemia está a ser muito boa ou boa, um terço, razoável, e apenas 10% julgam que é má ou muito má.
Já quando se pergunta se acham que o SNS vai ser capaz de aguentar uma eventual segunda vaga de covid-19, apesar de os inquiridos revelarem alguma confiança, o que sobressai das respostas são as dúvidas. A incerteza é óbvia, uma vez que apenas 15% acreditam categoricamente que sim (“de certeza”) e a maior parte antevê que “provavelmente sim”, enquanto um terço responde que não ou “provavelmente não”.
Relativamente ao futuro e às expectativas sobre a evolução da saúde, os inquiridos mostram-se divididos. Em função daquilo que conhecem actualmente, cerca de um terço imagina que Portugal estará pior dentro de dois anos, outro terço crê que vai estar igual e 29%, melhor. A este nível, não se observam diferenças nas respostas em função de características socioeconómicas das pessoas que responderam ao inquérito.
A linha de aconselhamento psicológico do serviço SNS 24 atendeu mais de 23 mil chamadas desde que foi criada no início da pandemia da covid-19, revelou esta segunda-feira a ministra da Saúde. Desde o dia 1 de Abril que o SNS 24 disponibiliza uma linha de aconselhamento psicológico destinada a profissionais de saúde, protecção civil, forças de segurança e população em geral, tendo em conta a prioridade atribuída à saúde mental neste período.