Movimento Fridays For Future pede novo começo para a Política Agrícola Comum

Numa carta aberta ao vice-presidente da Comissão para o Pacto Ecológico Europeu, afirma-se que a política agrícola representa “um perigo para o futuro” e “não garante respostas para a crise climática”

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O movimento Fridays For Future Europa alerta que o novo coronavírus expôs as fragilidades de um sistema alimentar globalizado, com a dependência dos países europeus das importações de alimentos, e pede um novo começo para a Política Agrícola Comum.

Numa carta aberta ao vice-presidente da Comissão Europeia para o Pacto Ecológico Europeu, Frans Timmermans, o movimento considera que a actual política agrícola representa “um perigo para o futuro”, uma vez que “não garante respostas para a crise climática”. “A crise do coronavírus veio expor as fragilidades do sistema alimentar globalizado. Os países europeus vêem-se confrontados com a dependência sistémica das importações de alimentos, trabalhadores sazonais mal pagos e cadeias de fornecimento e troca globalizadas”, escreve o Fridays For Future (FFF) Europa, sublinhando a perda de biodiversidade.

O FFF, que ganhou visibilidade com a activista sueca Greta Thunberg, pede um novo começo na construção da Política Agrícola Comum (PAC) para “fazer face à crise climática”, depois de esta semana a Comissão Europeia ter apresentado planos para o futuro da agricultura europeia, com a divulgação das estratégias políticas de biodiversidade e do Prado ao Prato. Na quarta-feira, a Comissão Europeia adoptou a “Estratégia da Biodiversidade”, com um financiamento de 20 mil milhões de euros por ano, e a “Estratégia do Prado ao Prato”, que contempla uma redução para metade da utilização e risco dos pesticidas.

Na carta divulgada esta sexta-feira, quando se assinala o Dia Internacional da Biodiversidade, horas antes de uma conversa por teleconferência com Timmermans, o Fridays For Futures sublinha: “Os políticos da UE têm que reconhecer que, por um lado, uma das grandes esperanças no combate à crise climática e no combate ao colapso da biodiversidade assenta na agricultura e que, por outro lado, a actual PAC está perto de a destruir”. “Precisamos de um novo começo na PAC. A PAC é uma das questões mais importantes para o futuro. Não só porque a actual política agrícola é ineficaz na redução rápida de emissões, mas pior, está a esgotar o potencial de esperança que existe dentro agricultura”, afirma Bianca Castro, do Fridays For Future Portugal (Greve Climática Estudantil), citada num comunicado do movimento.

O FFF Europa recorda que este ano os fundos da PAC para os próximos sete anos “serão redistribuídos” e recorda que, com 38%, a PAC “é o maior item do orçamento da UE” e que “mais de 10% das emissões totais de gases com efeito de estufa da UE são causadas pela agricultura”. O movimento lembra que pelo menos 10% do total de emissões europeias provém da agricultura, mas que os agricultores estão a lutar pela sua sobrevivência, e que a PAC é “um dos maiores programas subsidiários do mundo, com 58 mil milhões de euros todos os anos, o que faz corresponder 114 euros a cada cidadão da União Europeia”.

O FFF Europa destaca também que mais de 3600 cientistas estão a apelar à acção sobre a PAC, pois afirmam que as reformas na agricultura da UE “irão falhar em lidar com a crise climática e a perda de biodiversidade, colocando o futuro da agricultura em risco”. “Ainda assim, a agricultura pode providenciar muitas soluções: reduzir em metade a produção e o consumo de produtos de origem animal pode reduzir as emissões até 40%; as emissões podem ser rapidamente reduzidas, restaurando pântanos e solos; emissões negativas podem ser produzidas devido à fixação de carbono nos solos”, escreve o movimento.

O Fridays For Future defende ainda que a agroecologia, em conjunto com o fim da poluição causada pelo uso de pesticidas, “pode restaurar a biodiversidade” e que o futuro passa “por uma agricultura regional, justa, sustentável e digna para quem trabalha que reduza as injustiças e trilhe uma perspectiva de futuro para o sector”. “Para apoiar o papel central dos agricultores no ambiente e na sociedade, devemos encorajá-los com os guiões financeiros (para a redução de emissões, recuperação de biodiversidade e fixação de carbono nos solos) inscritos nos fundos da PAC”, acrescenta.

“Os fundos públicos têm de ser direccionados para uma transição agrícola sustentável, camponesa e amiga do ambiente. Precisamos de uma PAC justa e baseada em factos”, sublinha o movimento, acrescentando: “Apoiamos agricultores e trabalhadores agrícolas, independentemente dos seus produtos serem orgânicos ou não - não há uma transição justa sem eles. Apenas juntos podemos fazer a mudança”.