Covid-19: há alternativas aos descartáveis para proteger pessoas e ambiente

A pandemia de covid-19 está a provocar um “retrocesso temporário” em relação aos descartáveis, consideram as associações ambientalistas, o que não se deverá reflectir num retrocesso das políticas públicas tomadas até agora sobre a matéria.

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Vera Davidova

A Zero condena a perspectiva de que “o mais seguro é o que é para deitar fora” e lembra que há alternativas aos materiais descartáveis na luta contra o covid-19. Susana Fonseca, da direcção da associação, disse à Lusa que, em matéria de cuidados sanitários, há que ter “alguma razoabilidade” e que não é o uso intensivo de materiais descartáveis que resolve o problema da contaminação e propagação do novo coronavírus.

A ideia é também defendida por outra dirigente ambientalista, Catarina Grilo, da Associação Natureza Portugal, que alerta para a “falsa sensação de segurança” que os descartáveis podem dar. Questionada pela Lusa sobre o aumento recente e utilização de materiais descartáveis (muitos deles de plástico), contrariando as políticas seguidas até agora, Susana Fonseca salientou que os cuidados são importantes, mas que “o descartável não é o melhor”.

E deu exemplos: o uso de toalhas descartáveis nos cabeleireiros não é mais seguro do que lavar as toalhas, já que o vírus não subsiste após a lavagem; como não é mais seguro usar um copo de plástico para o café do que uma chávena que é lavada a altas temperaturas.

Nas palavras de Susana Fonseca, a nível europeu “não há qualquer recuo nem intenção” de parar as políticas defendidas até agora nesta matéria e adiantou também que o uso de material descartável dá nalguns casos uma falsa sensação de segurança. Na sua opinião, e como a DGS já alertou, há situações em que luvas não se justificam e que é suficiente a lavagem frequente das mãos, além de que se podem criar riscos acrescidos ao manusear objectos contaminados.”Temos é de aumentar as medidas de higiene e se tudo for cumprido o risco é eliminado. Não há necessidade de recorrer tanto ao descartável”, salientou nas declarações à Lusa.

Nesta matéria, disse ainda, “há uma grande oportunidade para empresas” encontrarem as melhores soluções, tanto mais que o plástico é a superfície onde o vírus permanece por mais tempo, podendo chegar a 72 horas. “Não nos podemos esquecer que não é só esta crise que estamos a viver", avisou.

A Assembleia da República debate esta quarta-feira, 6 de Maio, um projecto de lei e cinco projectos de resolução sobre a gestão de resíduos no âmbito da actual pandemia de covid-19, quer sobre as melhores práticas de gestão de resíduos descartáveis, como máscaras ou luvas por exemplo, quer sobre a, quando possível, opção por materiais reutilizáveis.

Questionado pela Lusa a propósito do aumento do uso de materiais descartáveis, entre os quais o plástico, devido à pandemia de covid-19, o Ministério do Ambiente e Acção Climática (MAAC)  garantiu que se mantêm as medidas previstas para este ano, como a proibição de produtos de plástico de uso único (como pratos, talheres, palhinhas ou cotonetes), antecipando uma directiva nessa matéria, ou a contribuição sobre embalagens de pronto a comer, que está prevista no Orçamento do Estado para este ano.

“Neste período entre o surgimento da covid-19 e o fim do período de Estado de Emergência, assistiu-se a uma pausa nestes imperativos comuns, em favor do princípio da precaução. Mas, à medida que o conhecimento científico sobre a propagação do vírus vai evoluindo, e com o regresso progressivo da atividade socioeconómica, as políticas ambientais revestem-se ainda de maior importância, dadas as implicações claras entre ambiente e saúde pública”, afirmou fonte oficial do MAAC.

Catarina Grilo, directora de Conservação da Associação Natureza Portugal, que em Portugal trabalha com a internacional World Wide Fund for Nature (WWF), também admitiu que a pandemia de covid-19 está a provocar um “retrocesso temporário” em relação aos descartáveis, mas considerou que tal não terá qualquer reflexo nas políticas públicas sobre a matéria. Ao contrário, acrescentou, “será mais um sinal” de que se devem acelerar medidas mais amigas do ambiente e de que empresas devem continuar a procurar substituir o plástico descartável por outros materiais.

“Vemos como um sinal muito positivo da elevada percepção que as pessoas têm dos problemas associados ao plástico descartável os inúmeros alertas que vemos nas redes sociais sobre o aumento do uso destes materiais desde que se iniciou a pandemia”, afirmou a dirigente ambientalista, acrescentando ter esperança que com a normalização da situação decorrente da covid-19 vai haver “largo apoio e adesão dos cidadãos a medidas de redução de descartáveis”.

Catarina Grilo entende o medo e a incerteza sobre quanto tempo vive o vírus nas diferentes superfícies, mas considera que os descartáveis para fins sanitários se devem restringir “o mais possível” aos profissionais de saúde, e acredita que os copos de plástico e embalagens take-away vão diminuir progressivamente.“O medo e receio de contaminação não são bons conselheiros, tanto por conduzir a uma utilização excessiva e desnecessária de materiais descartáveis, como por poderem dar uma falsa sensação de segurança”, defendeu a responsável.