Tribunal dos EUA diz que não há “discriminação de género” no futebol
Jogadoras da selecção feminina dos Estados Unidos tinham processado a federação, alegando disparidade salarial em relação aos homens. Juiz rejeitou as alegações; recurso segue dentro de momentos.
É uma luta que se arrasta desde 2016, mas as jogadoras da selecção de futebol feminina dos Estados Unidos sofreram na passada sexta-feira uma derrota. Mais de um ano depois de ter dado entrada no Tribunal Distrital dos Estados Unidos do Distrito Central da Califórnia um processo movido por 28 atletas contra a Federação de Futebol dos Estados Unidos (USSF na sigla original) alegando, entre outras queixas, disparidade salarial em relação aos homens – o pedido de indemnização era de 59,5 milhões de euros -, o tribunal norte-americano rejeitou as reivindicações de que existe “discriminação de género institucionalizada”. Apesar da derrota, Megan Rapinoe, Bola de Ouro em 2019 e símbolo da contestação da selecção feminina, reagiu, e promete não ceder.
É uma história com vários capítulos e ainda por encerrar. Em 2016, com um grupo que, apesar de ser reduzido, incluía cinco grandes figuras de uma das grandes potências do futebol feminino mundial (Carli Lloyd, Blecky Sauerbrunn, Alex Morgan, Megan Rapinoe e Hope Solo), deu entrada na Comissão para a Igualdade de Oportunidades Laborais uma queixa na qual a USSF era pela primeira vez acusada de discriminação salarial.
Sem que conseguissem fazer valer as suas reivindicações, segundo as quais a selecção feminina gerava mais receitas e alcançava audiências televisivas maiores do que a masculina, recebendo menos dinheiro, as atletas subiram a fasquia há cerca de um ano. No Dia Internacional da Mulher, a três meses do início do Campeonato do Mundo que os Estados Unidos acabariam por vencer, conquistando o seu quarto título em oito edições, as 28 atletas que faziam parte da equipa assinaram um documento onde acusavam a USSF de “discriminação de género institucionalizada”.
Seguiu-se o processo, que deu entrada no tribunal em Los Angeles, e para além da queixa da disparidade salarial, as jogadoras reclamavam dos locais e da frequência dos jogos disputados, dos espaços de treino, da assistência médica e das viagens. Por tudo isso, era pedido uma indemnização à USFF de 66 milhões de dólares (cerca de 59,5 milhões de euros).
Juiz diz que jogadoras receberam mais do que jogadores
Cerca de 14 meses depois, o veredicto do juiz federal Gary Klausner deixou as jogadoras, segundo a sua porta-voz Molly Levinson, “chocadas e decepcionadas”. Apesar de não ter rejeitado liminarmente todas as acusações – as alegações sobre tratamento injusto em áreas como viagens, acomodações hoteleiras ou assistência médica será julgado a 16 de Junho -, Klausner fundamentou a sua decisão argumentando que a selecção feminina recebeu mais “tanto cumulativa, como em média por jogo” do que a selecção masculina durante os anos em questão no processo.
Em comunicado, a USFF reagiu com satisfação, procurando colocar água na fervura: “Estamos ansiosos para voltar a trabalhar com a equipa nacional feminina para traçar um caminho positivo para o crescimento do jogo a nível interno e em todo o mundo. Estamos comprometidos em continuar esse trabalho para garantir que a equipa nacional das nossas mulheres continue sendo a melhor do mundo e estabeleça o padrão para o futebol feminino.”
As palavras aparentemente conciliadoras da USFF não serão, no entanto, o último parágrafo da história. Molly Levinson, porta-voz dos atletas, reagiu de imediato, garantindo que apesar de “chocadas e decepcionadas”, não vão desistir da luta “dura por salários iguais”. “Estamos confiantes no nosso caso e firmes no nosso compromisso de garantir que meninas e mulheres que praticam este desporto não sejam menos valorizadas apenas por causa do seu sexo”.
Megan Rapinoe, conhecida pelo seu talento e acutilância nas palavras, também não se deu por vencida. “"Nunca pararemos de lutar pela igualdade”, escreveu a melhor jogadora do Mundial 2019 no Twitter.