EUA autorizam primeiro medicamento para tratar covid-19

Este medicamento não reduziu o número de mortes, mas num ensaio clínico norte-americano, reduziu o tempo de recuperação da infecção pelo coronavírus nos casos graves.

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Prodição do remdesivir em instalações da Gilead La Verne, na Califórnia Reuters/GILEAD SCIENCES

A agência que regula o mercado dos medicamentos e alimentos nos Estados Unidos deu uma autorização de emergência para o uso do antiviral remdesivir no tratamento de casos graves de covid-19.

Essa autorização da Food and Drug Administration tinha sido solicitada esta semana, depois de ter sido interrompido um ensaio clínico promovido pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA. Entre os mais de 1000 doentes hospitalizados participantes, os que foram tratados com este medicamento recuperam em 11 dias, enquanto os que apenas receberam um placebo (uma substância sem actividade clínica) levaram 15 dias a recuperar da infecção pelo novo coronavírus.

No entanto, este medicamento não reduziu o número de mortes. Ainda assim, Anthony Fauci, director do instituto que promoveu o ensaio clínico, e o principal conselheiro da Administração Trump na luta contra a pandemia, considerou estes resultados “muito importantes”, embora “não sejam espantosos”.

Esta aprovação de emergência é temporária, destinando-se apenas a casos graves de covid-19. Para entrar definitivamente no mercado, este medicamento terá de se submeter ao processo normal de aprovação.

A farmacêutica Gilead aumentou a produção do remdesivir e tem neste momento o suficiente para tratar 150 mil pessoas, e assegura que estas doses serão fornecidas aos serviços de saúde sem custos, disse Daniel O'Day, o director executivo da empresa norte-americana, citado pelo New York Times. No entanto, não quis comentar o que fará a farmacêutica a longo prazo. É pouco provável que seja um medicamento barato.

O remdesivir não é uma molécula nova. Já existia, embora sem ser comercializado, porque se revelou ineficaz contra doenças como o ébola e a hepatite. Em laboratório, conseguiu fazer aquilo que é o seu objectivo: impedir os coronavírus de usar de forma eficaz o seu sistema de revisão do código genético de ARN, quando usa as células do organismo que infectou para fazer cópias de si próprio.

Mas quando posto à prova na vida real – em surtos de ébola em África ou para tentar tratar casos de hepatite – nunca cumpriu com o que se esperava dele, explica o New York Times. Por isso foi ficando numa prateleira, sem ter aprovação para uso em doença alguma. Até ser recuperado nesta crise, como muitas outras drogas o foram, para ver se alguma funcionaria contra o novo coronavírus.

Apesar de este ensaio clínico nos EUA do remdesivir apontar para a redução do tempo de recuperação da covid-19, ainda não é claro que tenha reais benefícios para os doentes. E tem efeitos secundários – que levaram à interrupção de outro ensaio clínico, na China, relata um artigo científico publicado na revista médica britânica The Lancet a 29 de Abril –, por “não apresentar melhorias significativas em termos estatísticos”.

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