E se um algoritmo previsse o melhor tratamento para as psicoses?

Projecto de investigação do médico psiquiatra Miguel Bajouco foi premiado com 50 mil euros através da Bolsa D. Manuel de Mello.

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Prevê-se que sejam seguidas 45 pessoas Miguel Manso

Nem todos os doentes com psicoses respondem bem aos primeiros tratamentos. E se houvesse um algoritmo que previsse o melhor tratamento para essas pessoas? É este o desafio de um projecto liderado por Miguel Bajouco, médico psiquiatra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que acabou de receber a Bolsa D. Manuel de Mello no valor de 50 mil euros. A cerimónia online de entrega desta bolsa realiza-se às 11h desta quarta-feira através de um webinar.

As perturbações psicóticas (ou psicoses), como a esquizofrenia, são doenças mentais graves que afectam cerca de 23,6 milhões de pessoas em todo o mundo. Quando ocorre o primeiro episódio psicótico, estes doentes respondem aos tratamentos de forma muito heterogenia: uns respondem melhor, outros de forma parcial e outros ainda de forma pior.

“Isto faz com que haja uma porção significativa de doentes que acaba por permanecer sintomática durante bastante tempo e, no fundo, isso acarreta um impacto na sua saúde mental”, diz ao PÚBLICO Miguel Bajouco, também investigador no Instituto de Imagem Biomédica e Investigação Translacional de Coimbra (CIBIT) e na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. O médico psiquiatra adianta ainda que este processo de adaptação aos tratamentos pode demorar algum tempo e as consequências podem ser nefastas para a evolução da doença e das próprias pessoas.

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Miguel Bajouco DR

Para melhorar esta situação, Miguel Bajouco está a desenvolver um projecto desde o início deste ano – agora interrompido devido à pandemia. O investigador prevê acompanhar 45 doentes com um primeiro episódio psicótico que sejam internados ou seguidos na consulta de intervenção precoce na psicose do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. A equipa de Miguel Bajouco fará uma avaliação clínica habitual a essas pessoas para se identificarem sintomas e o seu estado clínico. Depois, no CIBIT, serão feitas ressonâncias magnéticas e tomografias por emissão de positrões (PET).

Seis meses depois, irá verificar-se se os doentes responderam aos tratamentos e se há padrões nas ressonâncias magnéticas e nas PET que permitam prever a resposta à terapia dessas pessoas. Essas informações serão analisadas e correlacionadas através de métodos de inteligência artificial de machine learning (aprendizagem automática) para se tentarem identificar padrões que permitam prever uma resposta ao tratamento. O grande objectivo é identificar biomarcadores que poderão optimizar e personalizar a escolha dessa terapia.

“No futuro, o ideal era termos um algoritmo que permita adequar um tratamento à pessoa”, assinala Miguel Bajouco. Actualmente, como se destaca no comunicado da Bolsa D. Manuel de Mello, quando se selecciona um tratamento não se tem “informação prognóstica, pelo que os tratamentos são escolhidos numa base de ‘tentativa e erro’”.

Há ainda outra questão que será explorada neste trabalho. Os dados podem ser usados para se tentar perceber o que estará envolvido ao nível da química e da conectividade no cérebro dos doentes. Desta forma, poderão encontrar-se alvos terapêuticos.

A Bolsa D. Manuel de Mello é promovida pela Fundação Amélia de Mello, pela CUF e pela José de Mello Saúde. Desde 2007 já foram atribuídas 12 bolsas para o desenvolvimento de projectos de investigação de jovens médicos em Portugal. Miguel Bajouco diz que, em primeiro lugar, esta bolsa é um reconhecimento da qualidade do projecto. Ao nível do valor monetário atribuído, a bolsa vai permitir completar o projecto, que já era em parte financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. “[Esta bolsa] permitirá que ganhe mais autonomia para a realização do projecto, como a possibilidade de formação em algumas técnicas de imagem específicas”, refere o médico psiquiatra.

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