Covid-19: Antígona e Orfeu Negro juntam-se para apoiar livrarias independentes
Intitulada “Adopta uma livraria- 10 Dias, 10 Livrarias”, esta campanha de vendas online decorre entre os dias 14 e 23 de Abril (Dia Mundial do Livro), e visa dar às livrarias um terço do valor adquirido nas vendas.
As editoras Antígona e Orfeu Negro lançaram uma campanha conjunta para ajudar as livrarias independentes, encerradas e em dificuldades devido à Covid-19, através de apoio financeiro resultante de vendas online, e desafiam outras editoras a juntarem-se com novas ideias.
O anúncio foi feito por ambas, em comunicado, especificando que, desta forma, as duas editoras, também elas independentes, querem “alertar o público para a situação cada vez mais frágil das livrarias independentes”.
Intitulada “Adopta uma livraria- 10 Dias, 10 Livrarias”, esta campanha de vendas online decorre entre os dias 14 e 23 de Abril (Dia Mundial do Livro), e visa dar às livrarias um terço do valor adquirido nas vendas.
“Os leitores que encomendarem livros nos “sites” da Antígona ou da Orfeu Negro estarão a apoiar directamente a livraria designada para esse dia: 30% do valor líquido das suas compras reverte para a livraria. Além disso, terão 10% de desconto sobre o PVP [Preço de Venda ao Público] de cada livro e portes gratuitos”, esclarece a nota.
Cada editora seleccionou “as suas 10 livrarias independentes”, de norte a sul do país, ou seja, são 20 livrarias ao todo, e em cada um dos dez dias de campanha, vão estar a ser beneficiadas duas livrarias, uma seleccionada pela Antígona e outra pela Orfeu Negro.
Assim, e por ordem de dias, as livrarias assinaladas pela Antígona são a 100.ª Página (Braga), Escriba (Almada), Fonte de Letras (Évora), Ler Devagar (Lisboa), A das Artes (Sines), Tigre de Papel (Lisboa), Culsete (Setúbal), Snob (Lisboa), Flâneur (Porto) e Arquivo (Leiria).
Já a Orfeu Negro (distinguida no ano passado na Feira do Livro Infantil de Bolonha com o prémio de Melhor Editora Europeia de Livro Infantil) dá parte do destaque a livrarias dedicadas ao livro ilustrado.
Sendo assim, as livrarias escolhidas para cada um dos dias são a Livraria Ler (Lisboa), Hipópomatos na Lua (Sintra), Arquivo (Leiria), Gigões e Anantes (Aveiro), Salta Folhinhas (Porto), Aqui há Gato (Santarém), 100.ª Página (Braga), Fonte de Letras (Évora), Faz de Conto (Coimbra) e Tigre de Papel (Lisboa).
As equipas da Orfeu Negro e da Antígona consideram que “é muito importante que as editoras e as livrarias independentes estejam unidas nesta altura particularmente difícil”.
“Umas e outras estão já habituadas a uma existência plena de adversidades em Portugal, mas cabe-nos a todos garantir que, ultrapassado este período, regressemos de boa saúde e mais activas do que nunca”, afirmam.
Os impulsionadores da campanha afirmam que este é “um pequeno gesto de resistência”, ao qual pensam juntar outros nos próximos meses, e lançam um repto a outras editoras, para que “se juntem com acções semelhantes”.
No início deste mês, mais de meia centena de livrarias independentes de todo o país uniram-se para criar uma rede de cooperação com o objectivo de conjugar esforços para enfrentar a crise no sector, agravada agora pelas condições criadas pela covid-19.
Denominada RELI - Rede de Livrarias Independentes, esta associação livre de apoio mútuo foi lançada, juntamente com o respectivo site, com o objectivo de “coordenar esforços para enfrentar a crise no mercado livreiro, que vem comprometendo, já há vários anos, a existência de pequenas livrarias em todo o país”, segundo os livreiros.
Além disso, também enviaram uma carta aberta aos órgãos de soberania, com um conjunto de propostas para os ajudar a sobreviver à crise, que passam por medidas de apoio à tesouraria e rendas.
Antes disso, já as editoras tinham anunciado que suspendiam a produção de novidades e que se viravam para as vendas online, em alguns casos praticando descontos, para conseguirem sobreviver, face à crise no sector, que esvaziou e fechou as livrarias.
Este cenário passa-se um pouco por toda a Europa e na terça-feira, antecedendo a reunião de ministros da Cultura da União Europeia- que decorreu na quarta-feira -, a federação europeia de editores escreveu uma carta a alertar para a “gravosa situação” do sector livreiro e a solicitar apoio financeiro para aliviar os efeitos da crise.
Desta reunião não saíram medidas específicas para o mercado livreiro, mas sim a ideia de que alguns programas financeiros europeus para enfrentar a crise causada pela covid-19 - como a iniciativa de investimento, orçada em 37 mil milhões de euros, e o instrumento de mitigação de desemprego, no valor de 100 mil milhões de euros - vão poder ser utilizados no sector cultural e criativo.
Dirigido ao meio literário, foram anunciados incentivos à tradução de livros, no âmbito do programa Europa Criativa.
A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) tem dado conta dos dados relativos ao comportamento do mercado livreiro no mês de Março e revelou que na primeira semana em que se iniciaram as medidas de isolamento, a venda de livros teve uma quebra de 65,8% e que, especificamente, as livrarias tiveram uma redução de 73% na venda dos livros.
A semana seguinte, a primeira depois de declarado o Estado de Emergência, trouxe um cenário ainda mais grave, com a APEL a anunciar uma “queda a pique do mercado”, de menos 83% de vendas de livros, e a avisar que vários trabalhadores estão já em situação de “lay-off”.
Até ao momento, o Ministério da Cultura ainda não anunciou medidas específicas para este sector.