Carta aberta europeia pede a Merkel que apoie a emissão de “coronabonds

Mais de 300 personalidades europeias apelam à liderança da chanceler alemã no Conselho Europeu.

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Reuters/POOL

Uma carta aberta a pedir à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que lidere a resposta europeia à crise económica e financeira provocada pela pandemia do novo coronavírus e apoie uma emissão conjunta de dívida para financiar a recuperação económica da União Europeia foi subscrita por mais de 300 personalidades — entre as quais vários políticos europeus, economistas, investigadores, cientistas políticos, historiadores, sociólogos, activistas e artistas, que se dizem “alarmados” com a “acrimónia” e o “ressentimento” entre os países do Norte e Sul da Europa e a falta de solidariedade entre os Estados-membros.

Divulgada através da página da Open Democracy um dia depois de Angela Merkel ter afirmado que a resposta à crise do coronavírus tem de passar por “mais Europa”, os signatários insistem que só uma resposta colectiva — unida e concertada — garantirá a sobrevivência do projecto da União Europeia.

“Se não encontrarmos novas formas de solidariedade europeia, alguns países enfrentarão consequências muito mais graves do que outros”, assinalam, 24 horas depois de Merkel ter reconhecido que apesar de vários países estarem a ser afectados de forma diferente pela pandemia, nenhum foi imune ao impacto do vírus.

As palavras da chanceler alemã foram escutadas com atenção pelos subscritores da carta aberta. “A Europa está a enfrentar o maior teste desde a Segunda Guerra Mundial”, repetiu Angela Merkel, que sublinhou que “é do interesse de todos os Estados-membros, e também da Alemanha, que a Europa saia mais forte deste teste”. Como escrevem, “depois da Segunda Guerra Mundial, nenhum país teve maior capacidade de aprender com os seus erros do que a Alemanha”.

Os autores evocam os exemplos de Willy Brandt e Helmut Kohl para lembrar que “em circunstâncias difíceis foi a visão da Alemanha para a Europa que prevaleceu sobre os argumentos nacionais”, alguns mais do que legítimos. E recuam ainda mais no tempo para lamentar que, há um século, os líderes políticos da altura se tenham recusado a ouvir os conselhos de John Maynard Keynes e outros economistas, “com consequências catastróficas”. “Não podemos cometer esse erro outra vez”, sublinham.

É nessa linha que apelam à chanceler alemã para assumir a “liderança da acção no Conselho Europeu” e garantir que as propostas dos economistas alemães e europeus que defendem que a resposta à crise seja baseada em instrumentos financeiros como os chamados “coronabonds” são devidamente discutidas e ponderadas.

Mas alguns chefes de Estado e governo da UE recusam participar nessa conversa (o assunto não estava sequer no menu das propostas a discutir pelos ministros das Finanças na reunião do Eurogrupo desta terça-feira).

“As obrigações europeias [bonds], que estão ligadas ao actual contexto mas têm muito maior significado histórico, são uma garantia necessária para os restantes esforços do Banco Central Europeu e dos Estados-membros”, argumentam. Na sua opinião, são a única medida que poderá evitar que a emergência sanitária acabe por evoluir para uma nova crise da zona euro e, inevitavelmente, “para uma tragédia económica e social”.

Um acordo político relativamente à mutualização da dívida seria o sinal, para os europeus e o resto do mundo, de que os líderes da UE “estão preparados para fazer o que for preciso para preservar e fortalecer a sua União”.

“Estamos confiantes, sehr geehrte Frau Merkel, que isso não deixará de acontecer com a sua liderança”, dizem os subscritores da carta aberta, dirigindo-se à líder alemã na sua língua. A sua acção determinada, concluem, enriquecerá o seu legado — de Bundeskanzerlin (chanceler) e grande europeísta.

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