Nova-iorquinos escapam para o sol da Florida e podem levar o novo coronavírus
Casa Branca pede aos habitantes de Nova Iorque que saíram do estado a ficarem em quarentena durante 14 dias. Governador da Florida ordena isolamento aos passageiros de voos de Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut.
Qualquer pessoa que tenha saído nos últimos tempos da área metropolitana de Nova Iorque, um gigantesco pedaço de território urbano com mais de 20 milhões de habitantes, deve pôr-se em quarentena, esteja onde estiver, durante 14 dias. A mais recente directiva da Casa Branca, anunciada na noite de terça-feira, sublinha a gravidade da situação na cidade mais populosa dos Estados Unidos: uma em cada mil pessoas pode estar infectada com o novo coronavírus, um número oito a dez vezes superior à média de outras regiões do país.
O mais recente aviso da Casa Branca tem como objectivo travar o aparecimento de novos surtos em outras regiões, como na soalheira Florida, para onde muitos habitantes de Nova Iorque escaparam nos últimos dias após a entrada em vigor de medidas restritivas no seu estado.
Na noite de terça-feira, já depois de a coordenadora da Casa Branca para o combate ao novo coronavírus, Deborah Birx, ter pedido aos habitantes de Nova Iorque que não se aproximem de outros cidadãos, o governador da Florida, Ron DeSantis, convocou uma conferência de imprensa extraordinária.
“Assim que o governador de Nova Iorque decretou a ordem de isolamento, os aviões começaram a levantar voo carregados com pessoas a fugirem de lá”, disse o governador da Florida, onde o número de casos já ultrapassou os 1400. E onde as praias mais famosas só foram encerradas ao público nos últimos dias.
Por isso, anunciou Ron DeSantis, a partir de agora todos os passageiros de voos originários dos estados de Nova Iorque, Nova Jérsia e Connecticut vão ser postos em isolamento durante 14 dias assim que chegarem à Florida.
“Desejamos o melhor para os nossos amigos de Nova Iorque, eles têm um combate duro pela frente”, disse o governador. “Mas também temos de proteger a nossa gente aqui no estado da Florida.”
Estatísticas “perturbadoras"
Na conferência de imprensa diária na Casa Branca, na noite de terça-feira, tanto Deborah Birx como o seu colega Anthony Fauci, o director do instituto de alergias e doenças infecto-contagiosas dos Estados Unidos, reforçaram os avisos sobre a gravidade da situação em Nova Iorque.
“As estatísticas são perturbadoras”, disse Fauci. “Cerca de um em cada mil destes indivíduos está infectado.”
“Isso é oito a dez vezes mais do que em outras áreas. O que significa que se eles forem para outros sítios, têm de ter muito cuidado e estar sempre alerta”, disse o imunologista. Se não o fizerem, Nova Iorque pode tornar-se “num novo ponto de propagação do vírus”.
A velocidade a que o novo coronavírus se espalhou na região de Nova Iorque, onde há mais de 26 mil casos e 271 mortes até esta quarta-feira, é um exemplo de como é difícil travar uma doença contagiosa num mundo de viagens constantes entre continentes e de migrações diárias à volta de gigantescos centros urbanos.
A 80 quilómetros a nordeste de Manhattan, já no estado vizinho do Connecticut, a pequena localidade de Westport, com 26 mil habitantes e uma das 20 mais ricas dos Estados Unidos, tornou-se num centro de propagação do novo coronavírus no dia 5 de Março.
Por causa de uma festa de aniversário com cinco dezenas de convidados, o número de pessoas com a doença covid-19 aumentou 40 vezes na cidade e surgiram muitos outros casos no Connecticut e em Nova Iorque, e até um caso na África do Sul – um dos convidados viajou de Joanesburgo para Westport e adoeceu assim que regressou a casa.
Não é possível afirmar que aquela festa em Westport, agora conhecida nos media norte-americanos como “Festa Zero”, é a grande responsável pela situação dramática que se vive hoje em Nova Iorque. Mas, segundo um professor de Epidemiologia na Universidade de Harvard, William Hanage, “pode ser o exemplo de um acontecimento de superspreading” – quando uma única fonte infecta um grande número de pessoas.
“Alguns dos casos iniciais no Norte de Itália foram associados a pequenas localidades, e as pessoas desvalorizaram a situação. Mas, de repente, começaram a surgir casos na Semana da Moda de Milão e em todo o mundo”, disse o especialista ao jornal New York Times. “Quando pensamos que um vírus está num determinado sítio, ele está sempre um passo à frente.”
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