Há 165 médicos, enfermeiros e auxiliares infectados em Portugal. São 8% do total
Bastonários das ordens dos médicos e enfermeiros reclamam mais material de protecção, como máscaras e viseiras. Secretário de Estado diz que vão ser distribuídos mais quatro milhões de máscaras.
Cerca de oito por cento das pessoas infectadas com o novo coronavírus são profissionais de saúde. Destes, 82 são médicos e 37 são enfermeiros, revelou o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, esta segunda-feira. Horas antes, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, garantira que há clínicos que já estarão internados em unidades de cuidados intensivos. Em Espanha, 12% do total de infectados são profissionais de saúde, em Itália correspondem a 9% e 19 médicos morreram entretanto.
Dos 165 profissionais de saúde contabilizados pelas autoridades como estando infectados em Portugal, 46 são sobretudo assistentes operacionais (os antigos auxiliares) e técnicos, acrescentou o governante na conferência de imprensa em que foi apresentado o balanço da situação epidemiológica da doença covid-19. Os últimos dados indicam que há 2060 casos confirmados no país e 23 mortes. Catorze doentes já recuperaram e 47 estão internados em unidades de cuidados intensivos.
Depois de várias organizações de profissionais de saúde terem, ao longo dos últimos dias, denunciado que se estavam a multiplicar os casos positivos entre médicos e enfermeiros nos hospitais e centros de saúde, reclamado a divulgação destes dados e distribuição imediata de mais material de protecção, António Sales anunciou que, a partir de agora, passa a ser obrigatório registo da profissão no sistema de vigilância epidemiológica.
Entre os doentes com covid-19, alguns médicos estarão já internados nos cuidados intensivos, tinha dito horas antes no programa Directo ao Assunto, da Rádio Observador, o bastonário da Ordem dos Médicos, sem especificar quantos são, e recordou, a propósito, que tinha pedido à directora-geral da Saúde que fosse acrescentada a profissão nos registos para se perceber a dimensão deste problema.
Além dos idosos e com doenças associadas, os profissionais de saúde são um dos principais grupos de risco. Em Itália, segundo o último balanço, há 4 824 infectados e 19 médicos já morreram. Em Espanha, 12% dos casos confirmados são profissionais de saúde, revelou esta segunda-feira o director dos serviços de emergência do Ministério da Saúde do país, Fernando Simon.
A doença não escolhe profissões e é “normal” que afecte os profissionais de saúde, tendo em conta a sua exposição, enfatiza Miguel Guimarães. Para o evitar, só mesmo garantindo a protecção, através do uso do material necessário recomendado e o acesso a esse material é que é “crítico”.
Também a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, revelara, na sexta-feira, que havia 16 enfermeiros infectados e 50 a aguardar o teste. Neste domingo, Ana Rita Cavaco criticou, em declarações à RTP, a falta de máscaras, viseiras e outro tipo de material de protecção. “Ainda ontem vimos a fotografia de um enfermeiro com metade do seu equipamento de protecção individual e o resto improvisado com sacos de plástico do lixo”, exemplificou.
A dificuldade de acesso ao material de protecção individual — como máscaras adequadas — “é absolutamente crítica neste momento”, disse o bastonário, lembrando que a necessidade de garantir a existência deste material é contínua e não se resolve com a aquisição de alguns milhares de máscaras. “Quando o primeiro-ministro disse que tínhamos uma reserva de dois milhões de máscaras, isso não é nada, dois milhões gastam-se em dois dias, porque as pessoas têm de facto de andar protegidas”, disse Miguel Guimarães, precisando: “Precisamos de muitos milhões, daqui até ao fim de Maio ou de Junho.”
Esta segunda-feira, o secretário de Estado da Saúde adiantou que vão ser em breve distribuídas mais dois milhões de máscaras cirúrgicas, as mais básicas, e outros dois milhões de máscaras mais sofisticadas, as FFP2, que protegem contra aerossóis. Quanto a testes, precisou que há capacidade para realizar 2500 por dia no Serviço Nacional de Saúde e mais 1500 no sector privado. Há ainda cerca 20 mil testes em stock, contabilizou.
com Patrícia Carvalho