Dieta vegan: O pior são… os outros!
Segunda semana de uma alimentação exclusivamente vegan. Reforcei o que já sabia: é importante ler todos os rótulos. Estar atenta aos produtos animais escondidos. O pior? São os outros, sempre com as suas opiniões. E as situações sociais. Mas há estratégias para ultrapassar.
Parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida...
O bolo? O bolo provavelmente tem ovos e manteiga... Não é vegan. Tinha conseguido contornar todas as tentações desta semana com opções vegan mas, no aniversário da minha irmã, no qual comi arroz de tomate, brócolos, salada e outros legumes, enquanto outros se banqueteavam com chocos e lulas e peixe grelhado, num restaurante sobre o mar, na Costa Vicentina, simplesmente esqueci-me deste pormenor. Optei por dar uma pequena dentada – por questões meramente supersticiosas, dizem que dá sorte!
Esta segunda semana de desafio foi interessante. Em termos alimentares, confesso que tudo correu bem. Organizei-me, fiz marmitas, preparei opções mentais quando comi fora de casa sabendo de antemão o que iria escolher ou condicionando a escolha do restaurante para locais onde sabia que era fácil ter opções vegan. Começa a ser cada vez mais simples, pelo menos em Lisboa e até um pouco por todo o país.
Ter uma alimentação vegan requer atenções redobradas, e sobretudo ler o rótulos todos. Todinhos. Tem mel? Ovo? Até o chocolate preto, se não disser vegan na embalagem é porque tem vestígios de leite. Bem sei que estou apenas a fazer uma alimentação vegan e não a ser integralmente vegan (que implicaria recusar o uso de tudo o que seja de origem animal, incluindo roupa e calçado, por exemplo). Mas quero fazê-lo bem!
Depois da publicação do primeiro texto, recebi alguns comentários e direct messages a dizer que, para mim, ia ser fácil, porque já me alimentava bem... O desafio é real e a decisão é diária. A maior parte dos vegan passou pela fase de transição: primeiro deixam de comer carne, depois tornam-se ovo-lacto-vegetarianos, depois incluem dias veganos na sua rotina, até chegar a excluir tudo o que é animal.
Falei com Sandra Gomes da Silva, nutricionista, ela própria vegana, que me confirmou que a forma como a transição é feita, é fulcral para o sucesso: “Podemos começar por pesquisar receitas para as refeições principais e ideias para snacks. Podemos pensar nos nossos pratos favoritos e procurar receitas vegetarianas semelhantes. Se fizer sentido, podemos até planear as refeições da semana. Por fim, fazemos uma lista de compras (ver sugestão em baixo) e abastecermos a despensa.”
E, já agora, questiono, alguma dica para aguentar as primeiras semanas? “Estarmos bem informados e esclarecidos é o primeiro passo. Depois é manter a despensa com os alimentos mais importantes, pesquisar receitas e planear as refeições que teremos de fazer fora de casa.” Acho que tenho nota 10!
Escrevo este texto no dia em que o covid-19 foi declarado pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Não fui a correr para o supermercado comprar mais mantimentos, porque, sinceramente, tenho leguminosas secas que cheguem para me nutrir nas próximas semanas ou meses (um quilo de grão depois de demolhado e cozido rende bastante! E pode congelá-lo depois em pequenos recipientes, por exemplo.). Teremos todos de repensar como nos alimentamos? E como vivemos? Em vez de comprar feijão em lata, reaprender a demolhá-lo e a cozinhá-lo como faziam as avós? O sabor é outro e se está de quarentena é a altura ideal para readquirir alguns destes hábitos. Quem sabe fazer pão… Dizem que amassar relaxa, e o pão é vegan.
Sinceramente, numa semana tão emocional como esta, com todas as notícias, a parte mais difícil foram as perguntas, as dúvidas, o que os outros opinam e projectam de insegurança sobre nós e as nossas decisões. “Não vais ter proteína que chegue. (…) Não devias alimentar-te mal. É preciso ter as defesas reforçadas. (…) Tens de tomar suplementos!” Que cansaço! Nada disto é estritamente verdade, se a alimentação for a correcta e equilibrada. Sandra concorda: “A parte social é a parte mais difícil de se ser vegetariano, na verdade. É a minha experiência e a da maioria dos meus utentes. Daí ser tão importante estarmos informados e esclarecidos sobre o que comer, que cuidados devemos ter, como ter uma alimentação saudável, para que possamos lidar com tranquilidade com as pessoas ao nosso redor.”