A única cura para uma pandemia
Seja ao nível individual, coletivo, nacional ou global, é sempre da mesma atitude que estamos a falar. A cura para uma pandemia não pode ser outra senão uma grande dose de civismo universal.
Vai haver um antes e um depois do coronavírus para a história do nosso século, e as primeiras indicações não são boas. Anteontem Donald Trump deu disso o pior sinal na sua comunicação sobre a recém-declarada pandemia. O presidente dos EUA continua a fazer pouco ou nada para resolver problemas reais como as da completa inadequação, em quantidade e em fiabilidade, dos testes a pacientes e suspeitos de portarem o vírus, mas por outro lado tentou mostrar uma imagem de decisão ao proibir voos oriundos da Europa. Os critérios de Trump são de uma enorme arbitrariedade: proíbe voos oriundos de países como a Islândia, por pertencer ao espaço Schengen, mas permite-os do Reino Unido, num regime de liberdade de circulação com a UE até pelo menos janeiro de 2021 (a única diferença prática é mostrar o passaporte à entrada, o que é irrelevante do ponto de vista do vírus); proíbe voos de países com informação rigorosa e transparente sobre a pandemia, mas admite-os da Bielorrússia ou da Transnístria; proíbe voos de países com poucas infeções e admite-os de países com mais infeções, tanto em termos absolutos como per capita. Em 2018, Trump declarou que a União Europeia era “um inimigo dos EUA”, e não foi uma gafe da parte dele. Como todos os líderes autoritários, uma crise é apenas o pretexto de que precisam para fazer aquilo que sempre quiseram fazer.
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