“Há cada vez mais desigualdade no Porto. Não se pode viver aqui”

Na ilha do Beco do Paço, o anúncio do fim dos contratos instalou o medo. Senhorio vai realojar dois inquilinos, os restantes ficam por sua conta. Câmara do Porto não garante casas no imediato e todos recusam ir para albergues. E agora? “Vou para a rua dormir e pedir… é o que me resta”

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O silêncio de Mamadou Samba é ensurdecedor. Empurra a porta vermelha de entrada na sua ilha e caminha lentamente pelo longo e estreito corredor, entre electrodomésticos velhos, malas vazias, móveis, sacos, bacias, cobertores, vasos pouco floridos. Caminha alheio à conversa acesa entre os vizinhos, como se ignorasse um filme demasiadas vezes repetido na TV. Os contratos de arrendamento de quem ainda ali habita foram cessados. O prazo dado pelo senhorio já passou. Mas, sem alternativa à vista e numa angústia crescente, resistem à saída. Mamadou Samba, boina preta e olhar deserto, permanece introspectivo. Passa pelos vizinhos, abre a porta de casa, puxa uma cadeira para o corredor. A sua imagem, sentado e de cigarro na mão, é a metáfora perfeita do fim. Numa revolta taciturna, desorientada e já sem forças. “Está tudo igual”, acaba por dizer, minutos depois.

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