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David Hockney revela retrato esquecido dos seus pais

Drawing from Life é o título da exposição que o artista inglês mostra a partir de 27 de Fevereiro na National Portrait Gallery.

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My Parents and Myself (1975) National Portrait Gallery
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My Parents (1977) Tate Britain
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David Hockney em Londres, em 2012 Luke MacGregor/ REUTERS

Em 1975, o pintor inglês David Hockney (n. Bradford, 1937) decidiu fazer o retrato dos pais, Laura e Kenneth Hockney. Fez duas tentativas, que resultaram em dois quadros que não o satisfizeram. Destruiu um deles, e o outro guardou-o algures no sótão do esquecimento. Os pais não gostaram da atitude de David, e protestaram. Principalmente Kenneth, que, com Laura, tinha inclusivamente viajado de Inglaterra para Paris para posar para o filho pintor, então aí radicado. 

“O pai ficou furioso e telefonou ao David a dizer-lhe isso”, mas, mais tarde, voltou a telefonar-lhe para lhe pedir desculpa: “David, esquece o que te disse”. O episódio foi agora recordado por Margaret Hockney, irmã do pintor, ao jornal The Guardian, a pretexto da inauguração de uma nova exposição do artista em Londres, David Hockney: Drawing from Life (Desenhar a vida, numa possível tradução), que esta quinta-feira, dia 27, abre na National Portrait Gallery (NPG), comissariada por Sarah Howgate.

A relação do artista hiper-realista com os pais retomou a normalidade quando, dois anos depois, ele voltou a Inglaterra, alugou uma casa em Notting Hill, e os chamou para um novo retrato, este sim levado até ao fim, e registado com o título My Parents (1977), que seria exposto na galeria londrina Hayward, e depois adquirido pela Tate Britain.

Passados 45 anos, David Hockney decidiu ir repescar o primeiro quadro, My Parents and Myself, e expô-lo em conjunto com My Parents, e um dos atractivos da nova exposição na NPG, que terá centena e meia de desenhos e retratos, será mesmo poder comparar aquelas duas obras.

Sem “paz e sossego"

No quadro agora revelado, Laura e Kenneth estão sentados em cada um dos lados de uma pequena mesa, onde um espelho, junto a um vaso com túlipas amarelas, reflecte a figura do próprio pintor. Na versão de 1977, os pais mantêm-se nos mesmos lugares, mas Kenneth está ligeiramente curvado e a ler um livro, e a imagem do filho desapareceu do espelho, tendo as flores passado a ter várias cores – na prateleira da mesinha vêem-se seis volumes da obra de Marcel Proust, À Procura do Tempo Perdido.

Em 1975, “ele exagerou, e pintou de mais; [no retrato] o pai está demasiado rígido”, comentou agora ao Guardian Sarah Howgate, numa tentativa de explicação para o episódio dos anos 70. E o próprio David Hockney disse que destruiu a primeira versão do retrato iniciado em Paris, que tinha um triângulo em fundo, porque o achou “muito superficial”. Além de que, nessa altura, “havia demasiada gente” a visitá-lo em Paris, e só encontrou “a paz e o sossego” necessários para retomar esse seu projecto quando regressou a Londres.

Sobre a versão que, apesar de tudo, decidiu manter dos dois retratos iniciados na capital francesa, o pintor explicou que não faria sentido “destruí-lo agora, passados estes anos todos”. “Afinal, foi um retrato feito com os meus pais vivos, e eles já cá não estão”, acrescentou.

A sua irmã Margaret recordou também a satisfação com que os pais, e a mãe em particular, reagiram ao novo trabalho em 1977. “Ele regressou ao nosso retrato. Perguntei-lhe porque tinha mudado de ideias. O que é que o influenciara. Ele disse que sentia uma nova inspiração. Só quero que ele seja feliz e fique satisfeito com o seu trabalho. Nada é mais importante do que isso”, escreveu Laura Hockney no seu diário.

Além destes dois retratos dos pais, Drawing from Life, que é a maior reunião de desenhos de David Hockney nos últimos vinte anos, revisita seis décadas do seu trabalho, desde os anos 1950 até à actualidade. Além da família e de vários auto-retratos, nomeadamente os que fez na década de 80, na exposição estão também representadas personagens que sempre lhe foram muito próximas, como a sua musa Celia Birtwell, o curador Gregory Evans ou o impressor Maurice Payne.

Drawing from Life marca, por outro lado, o regresso de Londres à obra do artista depois do grande sucesso de visitas registado com a exposição com que a Tate Britain assinalou o seu 80.º aniversário, no início de 2017.

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