Caso Marega: uma praga com dezenas de anos, muita conversa e pouca acção
O caso Marega, ou, melhor, a louvável atitude do jogador de sair do campo para denunciar os actos de racismo de que estava a ser vítima, teve o mérito de trazer mais a questão sobre a violência no desporto para a praça pública.
No desporto português em geral e no futebol em particular, há dezenas de anos que se assiste a actos públicos de racismo por parte de adeptos, especialmente das claques. Junte-se a isto todo o tipo de actos de violência, tráfico de droga, apologia do fascismo e do nazismo e outro género de crimes. Repito: há dezenas de anos que estas situações são do conhecimento de todos, em particular dos dirigentes de todos os clubes, dos Governos e das forças de segurança.
O que foi feito? Por parte dos clubes, nada. Por parte dos Governos, apenas algumas leis avulsas, a maioria das quais sem efeitos práticos. O único combate eficaz é feito pelas polícias, que todas as semanas são obrigadas a mobilizar centenas de homens e mulheres, especialmente quando se realizam os chamados jogos “grandes”, com elevados custos para o erário, para evitar que centenas de energúmenos se matem uns aos outros e destruam tudo à sua volta.
O caso Marega, ou, melhor, a louvável atitude do jogador de sair do campo para denunciar os actos de racismo de que estava a ser vítima, teve o mérito de trazer mais uma vez a questão sobre a violência no desporto para a praça pública. O que daqui vai resultar, além do falatório habitual, vai ser, muito provavelmente, muito pouco. Umas multas ridículas para clubes que gerem milhões de euros, um ou dois jogos à porta fechada no estádio do Vitória de Guimarães, e, com sorte, meia dúzia de adeptos identificados por actos de racismo, para acabar com o falatório.
Numa altura em que os clubes empurram para o Governo a responsabilidade para colocar fim à violência no desporto, o executivo deveria aproveitar esta oportunidade e tomar o assunto como seu. E já que os clubes querem que o executivo tome conta da coisa, a primeira medida que se deveria tomar era forçar a mudança das leis desportivas, de forma a penalizar os clubes com perda de pontos nos campeonatos sempre que se verifiquem actos de violência praticados pelas claques dentro e fora dos recintos desportivos. Sejam essas claques apoiadas oficialmente ou não.
Só assim os clubes se vão mexer a sério para pôr fim a esta praga consentida pelos clubes há dezenas de anos.