Falta pouco tempo para conhecer o vencedor do Prémio Pritzker 2020. Desde 1979, houve 41 edições daquele que é talvez o mais reconhecido prémio em arquitectura. Já foi atribuído a arquitectos de quatro continentes. Contudo, África é, por enquanto, o único continente sem arquitectos reconhecidos. Será assim por quanto tempo?
Esta falta de reconhecimento pode ter várias razões. A falta de arquitectos, ou a carência de infra-estruturas, por exemplo, pode explicar o esquecimento. Mas a recente valorização da cultura africana no mundo mostra como a visibilidade de vários arquitectos pode chegar tão tarde.
O Gana fez-se representar na última Bienal de Arte de Veneza com um pavilhão único — mostra o cruzamento de várias áreas — com trabalhos de El Anatsui, Lynette Yiadom-Boakye ou John Akomfrah — este último expôs recentemente no Museu Colecção Berardo. Mas este pavilhão também marcou a Bienal de Veneza pela arquitectura do ganês David Adjaye: paredes ondulantes, revestidas com terra, que definem espaços fluidos.
Tal como no premiado Pavilhão do Gana, na Bienal de Arte de Veneza, são vários os projectos que lançam uma procura pelas raízes ancestrais e da herança vernacular, sem perder uma ideia de futuro. E se a expressão afro-futurismo foi cunhada nos anos 90 junto da diáspora africana dos EUA, há cada vez mais arquitectos, em África, que lhe dão substância. É o caso de Francis Keré, que desenhou escolas no Burkina Faso. Ou do Atelier Masomi, de Miriam Kamara, em Niamey, Níger, com uma equipa maioritariamente feminina. Um dos seus projectos, o centro comunitário de Dandaji, propõe uma reinterpretação das formas da arquitectura vernacular, na mesquita e na biblioteca.
A diversidade de projectos em África é tal, que se torna impossível generalizar. Há projectos de grande escala, como o Centro de Congressos de Dakar, no Senegal, que contam com o apoio de ateliers internacionais. E há ainda os projectos feitos com materiais locais, pelos belgas BC Architects, na biblioteca de Muyinga, Burundi.
Entretanto, cresce o reconhecimento de Francis Keré, na escolha da Serpentine Gallery de 2018. E nem foi necessário que Angelique Kidjo esgotasse a Royal Albert Hall londrina, nas Proms de 2019, com o som do seu afrobeat: a arquitectura africana já ganhou influência própria.
Como se vê na semente a germinar no deserto, em Pumzi, filme de ficção científica produzido no Quénia em 2009, cresce a esperança em África. É nesse optimismo que crescem os novos projectos e novas formas de ver a arquitectura. Irá o prémio Pritzker reconhecê-lo? Poderá ser uma questão de tempo.