Macau: o golpe inesperado do coronavírus na cidade da abundância

Com quase 35 mil infectados no mundo e mais de 700 mortos, a epidemia do novo coronavírus (2019-nCoV) impôs sobre Macau um quotidiano próximo de uma narrativa distópica. O encerramento dos casinos traduz-se num impacto “brutal” na economia do território, fortemente dependente do sector do jogo.

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Eduardo Martins

Vazio, silêncio, o lento estremunhar dos velhos nas varandas, que espiam a longa escadaria das Ruínas de São Paulo. Lugar-património que em cada dia fervilha de gente. Fixado no portão da fachada, o aviso de encerramento, desde 25 de Janeiro, inserido no esforço amplamente difundido para estancar a propagação da epidemia. Dos seis quiosques de souvenires arrumados na lateral das ruínas, só um aberto, e o casal de idosos que não arreda pé de um recanto que assegura o sustento. Braço estendido, a clamar pelos que passam. Na ausência do inglês, o pouco português serve apenas os códigos do comércio: “Comprar chapéus, dinheiro Macau, dinheiro Hong Kong. Mais não sei”. Do outro lado da grande empreitada dos jesuítas, o pequeno templo de Na Tcha não guarda hoje crentes. Frente ao Deus-menino a quem um monge taoista estendeu a divindade, não arde o incenso na grande pira de ferro. Chega-se a mulher de rosto sulcado, três pivetes queimados de um fôlego, corpo curvado, mãos postas em oração, agitadas três vezes; para desaparecer, depois, no interior da pequena casa no Pátio do Espinho. 

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