“O Governo tem dado grande atenção à Saúde porque sabe que falhou redondamente”
CDS e Bloco de Esquerda reagiram à mensagem de Natal de António Costa, dizendo que a Saúde é uma preocupação de todos, mas que há outros temas também merecedores de atenção (e de soluções).
Depois de divulgada a mensagem de Natal de António Costa dedicada unicamente à Saúde, o Bloco de Esquerda (BE) e o CDS-PP (pelas vozes de Luís Fazenda e Cecília Meireles) reagiram à intervenção do primeiro-ministro, dizendo que foi “limitada”, que não basta focar-se na suborçamentação na Saúde e que faltou endereçar outras matérias igualmente importantes para o país. As reacções dos restantes partidos são esperadas nesta quinta-feira.
O foco na Saúde é também entendido pelo CDS como um assumir de culpas: “O Governo tem dado grande atenção à Saúde porque sabe que nessa matéria falhou e falhou redondamente. Dava mais confiança à mensagem se [o primeiro-ministro] tivesse conseguido reconhecer os seus erros e admitisse que os ia tentar corrigir”, reagiu a deputada Cecília Meireles, na noite desta quarta-feira. “Não vimos um reconhecimento da sua responsabilidade e do seu Governo”, atirou a deputada centrista, salvaguardando que “a Saúde é de facto uma prioridade” para o país e que deve também ser prioridade para todos os partidos.
A deputada diz que é importante “que estas promessas sejam transformadas em realidades”, até porque há “doentes que esperam e desesperam quer à espera de consultas, quer nas urgências”, refere. Além disso, Cecília Meireles diz que faltou na mensagem “uma palavra a todos aqueles que trabalham, que se esforçam e que com o dinheiro dos seus impostos sustentam o Estado e que têm o direito de esperar que esse Estado funcione bem e lhes preste bons serviços. Faltou essa palavra à iniciativa privada, ao trabalho, ao esforço, ao mérito”, concluiu.
Uma mensagem “limitada”
Já Luís Fazenda, do BE, refere que foi uma mensagem “limitada” e que “o orçamento em si é uma resposta ao país e não pode ser apenas centrada no sector da Saúde”, acrescentando que o orçamento peca por ser pouco substancial. “Se verificarmos o orçamento executado da Saúde e aquele que actualmente é prometido para o próximo ano, não andaremos com valores muito diferentes. Agora, tudo depende da execução orçamental do próximo ano, de haver ou não haver um reforço do sector da Saúde”, afirmou às televisões no dia de Natal. De resto, deixou o alerta: “Há imensas medidas que têm de ser tomadas”, como o fim das taxas moderadoras ou o caminho para a exclusividade dos profissionais de saúde.
Luís Fazenda acredita que a mensagem de António Costa “tem o ponto importante de reconhecer a crónica suborçamentação na Saúde”, mas antevê “descontinuidades e roturas” com o PS por ver “um orçamento tímido e insuficiente em algumas áreas”, como a dos cuidadores informais. “Não chega”, conclui o deputado.
A mensagem de Natal de António Costa referia que o dever do Governo é “responder às necessidades do presente e garantir o melhor futuro para o Serviço Nacional de Saúde”. Esta não foi a primeira vez que o primeiro-ministro escolheu um único tema para comunicar aos portugueses – o mesmo já acontecera em 2016, quando escolheu a Educação.
Ainda que não negasse a existência de outros problemas, António Costa justificou a escolha da Saúde este ano por saber “que é uma das principais preocupações dos portugueses e que há vários problemas para resolver”. E, de uma forma sucinta, mencionou os outros desafios: “o combate às alterações climáticas, à pobreza, pelo acesso à habitação, à melhoria do emprego, da educação, o fortalecimento do crescimento económico”.