Nas margens da albufeira de Pedrógão cresce o maior bosque ripícola plantado em Portugal

Para compensar o coberto florestal que iria ficar coberto pelas águas, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva plantou, em 2005, cerca de 650 mil árvores e transplantou 720 exemplares adultos de amieiros e freixos.

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Quando se assiste à destruição massiva e sistemática de galerias ripícolas (ribeirinhas) e de corredores ecológicos no território regado a partir das águas do Alqueva, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) apresenta uma das suas mais bem conseguidas medidas de compensação ambiental alguma vez realizada em Portugal. Numa albufeira, o imenso bosque plantado há anos cresce frondoso.

Nas margens da albufeira de Pedrógão, que recebe as descargas turbinadas pelo sistema hidroeléctrico de Alqueva e os afluentes do rio Ardila, foram plantadas, em 2005, cerca de 65 mil árvores ripícolas, essencialmente choupo (Populus L.), freixo (Fraxinus angustifolia Vahl) e lódãos (Celtis australis L.).  Decorridos 15 anos desta operação, o território florestado com espécies autóctones apresenta hoje o maior bosque ripícola plantado a nível nacional. Cobre uma área com quase 200 hectares, que se estende ao longo de mais de 400 metros em cada uma das margens da albufeira de Pedrógão.  

“Hoje podemos disfrutar de um verdadeiro oásis” para a fauna e flora característica destes habitats, explicou ao PÚBLICO Carlos Silva, porta-voz da EDIA, descrevendo como as várias espécies de pica-pau, entre outras aves, “encontram na madeira macia dos choupos o lugar ideal para ‘escavar’ os seus ninhos”.

David Catita, técnico do ambiente na EDIA, destaca a importância da reflorestação efectuada para compensar o coberto vegetal que se perdeu com a retirada da matéria orgânica existente no que é hoje o leito da albufeira de Pedrógão (essencialmente árvores e arbustos) para garantir a qualidade da água. “Alcançámos a maximização daquilo que tínhamos anteriormente”. No lugar de uma ribeira com vegetação ripícola, temos uma albufeira com milhares de árvores à volta”, destaca o técnico da EDIA.  

A intervenção implementada nas cabeceiras do Rio Ardila, para além de compensar a destruição da galeria ripícola então existente neste curso de água, visou a criação de um “filtro natural para as escorrências que afluem à albufeira, melhorando a qualidade da água, ao mesmo tempo que as próprias árvores passaram a constituir exemplares que são agora e no futuro dadores de sementes para a regeneração do próprio bosque, hoje muito visível”, salienta David Catita.

Para chegar até aqui, funcionários da EDIA asseguraram a manutenção regular das 65 mil árvores plantadas, “regando os jovens exemplares até à sua fixação e impedindo que o gado invadisse este território e destruísse a vegetação”, salienta o técnico da EDIA.

A enorme plantação de exemplares de vegetação ripícola integrou o Plano de Protecção, Recuperação e Valorização do Coberto Vegetal nas albufeiras do Alqueva e Pedrógão e foi complementada com uma outra realizada na ribeira de Marmelar que desagua na albufeira de Pedrógão. A operação então efectuada implicou a transplantação em massa de 720 exemplares de árvores adultas de grandes dimensões como amieiros (Alnus glutinosa) e freixos, que foram de novo plantados numa zona a montante da ribeira de Marmelar.

Árvores frondosas

A linha de água tinha árvores frondosas, permitindo que a superfície líquida não aquecesse no Verão, dando condições às espécies piscícolas e à avifauna para permanecerem no local durante os períodos de estiagem.

Era uma galeria ripícola “incrível, com amieiros e freixos de muita qualidade vegetativa”, recorda David Catita. E como essa zona ia ficar debaixo de água e as árvores iam inevitavelmente morrer, o que se fez foi pegar nesses exemplares adultos e transplantá-los para uma zona de cabeceira que ficou fora de água e para robustecer uma ribeira que já existia. O projecto de reflorestação que foi efectuado não só replicou como reforçou o habitat que a ribeira de Marmelar sustentava.

O técnico recorda que a EDIA optou por “criar três ribeiras paralelas à linha de água já existente”. Para materializar este objectivo foi necessário proceder ao arranque de centenas de exemplares de grande porte e transportá-los em viaturas de grandes dimensões para os replantar no seu novo habitat.

A manutenção destas espécies garantiu a sua sobrevivência. “Aguentaram e neste momento são árvores lindas” a comprovar que este património genético não se perdeu e continua no novo espaço a exercer a sua função. Decorridos tantos anos desta intervenção que demorou meses, “temos uma ribeira viva e larga que permite desempenhar as suas funções hidráulicas e preservar zonas de abrigo para a fauna”, sublinha David Catita.

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