Macron enfrenta mais uma greve antes de revelar como quer mudar o sistema de pensões
Quase todas as centrais sindicais francesas convocaram um novo dia de protestos para 10 de Dezembro contra a reforma do sistema de pensões. O primeiro-ministro, Edouard Philippe, anunciou que vai revelar o projecto legislativo no dia seguinte.
O Governo do Presidente Emmanuel Macron vai enfrentar outra greve geral a 10 de Dezembro contra a reforma do sistema de pensões e o executivo vai apresentar o projecto legislativo no dia seguinte, anunciou esta sexta-feira o primeiro-ministro, Edouard Philippe. As linhas gerais do projecto lei serão apresentadas este fim-de-semana.
Os grevistas esperavam que a greve geral desta quinta-feira, a maior dos últimos anos, fosse o início de algo maior e prolongado no tempo e os trabalhadores ferroviários e transportes públicos deram o tiro de partida. Prolongaram a greve até segunda-feira e esta sexta-feira a capital francesa ficou parcialmente paralisada e alguns professores, poucos, seguiram-lhes os passos (4,55% no ensino primário e 5,42% no secundário).
Pelo menos nove das 16 linhas de metro estiveram encerradas, 90% dos comboios de alta velocidade e 70% dos comboios regionais foram suprimidos e companhias aéreas cancelaram voos domésticos e internacionais, com os seus efeitos a fazerem sentir-se noutras cidades: Lyon, Bordéus, Toulouse, Marselha, Montpellier, Nantes e Rennes. Cinco depósitos de combustíveis nacionais continuaram bloqueados, sem que se esperem melhorias significativas no fim-de-semana.
As estradas de acesso a Paris ficaram bloqueadas por milhares de carros – as filas chegaram a ter um total de 347 km. Os dirigentes das principais centrais sindicais (CGT, FO, Solidaires e FSU) e dirigentes estudantis reuniram-se para convocar uma segunda greve geral em numa semana. Será a 10 de Dezembro, terça-feira, e é provável que volte a paralisar o país. A nova vaga de lutas sindicais é o maior desafio para Macron desde o movimento dos “coletes amarelos”.
“Toda a gente nas ruas na terça-feira, 10 de Dezembro, para um novo dia de greves, acções e protestos”, anunciou Catherine Perret, dirigente da CGT. “Estamos determinados, não é um movimento de humor de alguns dias”, acrescentou Bernadette Groison, secretária-geral da FSU, federação dos professores, citada pelo Le Monde.
Os grevistas protestam contra a anunciada reforma do sistema de pensões pretendida por Macron e receiam trabalhar mais anos por uma reforma menor. A reforma será calculada a partir do número de pontos obtido ao longo da carreira contributiva e não através do número de anos em que se contribuiu, segundo recomendações do relatório entregue em Julho por Jean-Paul Delevoye, alto-comissário para os pensionistas. Os pontos dependem dos rendimentos, mas não só. O nascimento de um filho, por exemplo, que pode penalizar a carreira dos pais, passará também a valer pontos.
Os sindicalistas sabem que têm de dar o tudo por tudo neste braço-de-ferro com o Governo. Uma derrota será um duro golpe nas organizações dos trabalhadores. Mas a revolta é bem mais profunda do que a dos trabalhadores sindicalizados que temem perder as condições mais benéficas das suas pensões. A sociedade francesa, tal como outras, é cruzada por uma crescente precariedade, desigualdades sociais, degradação dos serviços públicos e isolamento das comunidades mais distantes das grandes cidades, que se cristalizam nestes momentos de protesto.
Este movimento de greve foi o maior dos últimos anos, ao levar mais de 806 mil pessoas a manifestar-se em todo o país, segundo números do Ministério do Interior, e mais de um milhão e meio, nas contas da CGT. Escolas fechadas, depósitos de combustíveis bloqueados, transportes públicos paralisados e voos cancelados marcaram o dia de quinta-feira.
Os protestos foram palco de alguns confrontos com elementos do “black bloc” em Paris, e também noutras cidades. Uniram bombeiros, funcionários públicos, professores, estudantes, “coletes amarelos” e, diz uma reportagem do Le Monde, havia algo de diferente na atmosfera, como se fosse um rastilho.
O relatório de Delevoye foi o ponto de partida para o projecto legislativo que o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, disse pretender revelar por inteiro na próxima quarta-feira, reforçando a intenção de unir todos os sistemas num único a partir de 2025. Mas até lá “ainda há espaço para negociações”, sublinhou a porta-voz do Eliseu, Sibeth Ndiaye. Entretanto, as linhas gerais da reforma serão apresentadas este fim-de-semana.