SNP quer mandato claro para a independência da Escócia e para “escapar ao ‘Brexit’”
Nacionalistas escoceses apresentaram programa eleitoral e estabeleceram linhas vermelhas para o diálogo com o Labour e outros partidos: referendo secessionista em 2020, resistência à saída da UE, compensações pela austeridade e retirada das armas nucleares do território.
O Partido Nacional Escocês (SNP) encara as eleições legislativas britânicas de 12 de Dezembro como uma oportunidade flagrante para receber do eleitorado um mandato “claro” para exigir a Londres um novo referendo à independência da Escócia em 2020 e continuar a lutar contra a saída do Reino Unido da União Europeia.
Na apresentação do programa eleitoral do partido, esta quarta-feira, em Glasgow, a sua líder, Nicola Sturgeon, incluiu esses dois objectivos na lista de condições que o SNP vai exigir aos restantes partidos – particularmente aos trabalhistas – se o Parlamento britânico ficar novamente bloqueado após as eleições.
“Uma vitória do SNP nestas eleições seria uma instrução clara da população da Escócia para que se respeite a sua democracia. Votem SNP para enviarmos a mais firme das mensagens para Westminster, Boris Johnson ou qualquer outro político: Westminster não tem poder de veto sobre o direito dos escoceses de decidirem o seu próprio futuro”, atirou Sturgeon.
Segundo a legislação britânica, é necessária luz verde de Downing Street para a realização de referendos independentistas nas nações do Reino Unido. Em 2014 a Escócia foi às urnas, mas a secessão foi rejeitada por 55,3% dos votos. A vitória clara do Remain no referendo do “Brexit” (62%), em 2016, motivou, no entanto, nova mobilização do SNP em redor da causa independentista.
O SNP é, actualmente, a terceira força política no Parlamento britânico, e espera poder manter essa posição nestas eleições ou, pelo menos, alcançar deputados suficientes para ser um actor fundamental de negociação, num quadro de vitória do Partido Conservador – como se espera –, sem maioria.
A líder do SNP e primeira-ministra escocesa admitiu entrar numa “aliança progressiva” com outros partidos da oposição, para “afastar os conservadores do Governo” e “escapar ao ‘Brexit’”, mas deixou algumas críticas a Jeremy Corbyn e ao Partido Trabalhista.
Na mira de Sturgeon está a “neutralidade” do Labour em relação ao “Brexit”, a “fraca liderança” de Corbyn na luta contra o anti-semitismo no partido e os planos do líder para taxar os lucros da exploração petrolífera – sector fundamental para o desenvolvimento económico da Escócia – em nome da luta contra as alterações climáticas.
“Não vamos assinar nenhum cheque em branco e entregá-lo a Jeremy Corbyn ou a qualquer outro líder”, afiançou Nicola Sturgeon.
Para além da intenção de realizar um novo referendo independentista para o próximo ano, na lista de exigências dos nacionalistas escoceses, detalhada no seu manifesto eleitoral, cabem ainda: a defesa de um segundo referendo ao “Brexit” ou a revogação do artigo 50º se a única alternativa for a saída sem acordo a 31 de Janeiro; o “fim da austeridade” e o aumento do investimento público na Escócia; mais competências na definição da política migratória escocesa; e o fim do “imoral” Tridente, o sistema de mísseis nucleares dissuasores localizado em território escocês.