Nacionalizações, investimento recorde e “revolução verde”: eis o programa eleitoral de Corbyn

Líder trabalhista apresentou “manifesto de esperança” para as eleições de Dezembro e assegurou ser possível implementá-lo à revelia “das pessoas mais poderosas do Reino Unido” e dos “multimilionários que controlam o Partido Conservador”.

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Jeremy Corbyn agradece o apoio dos que estiveram em Birmingham para assistir à apresentação do manifesto Reuters/PHIL NOBLE

Jeremy Corbyn apresentou esta quinta-feira o manifesto do Partido Trabalhista para as legislativas de 12 de Dezembro e descreveu-o como o “mais radical e ambicioso plano das últimas décadas para transformar o Reino Unido”. O líder do Labour propõe a nacionalização de diversos sectores, aumentos para a função pública, um investimento público recorde, uma “revolução verde” para a economia e o aumento da taxação sobre as empresas petrolíferas, as transacções financeiras e as grandes fortunas.

O manifesto confirma ainda a intenção do partido de renegociar o acordo “Brexit” com Bruxelas, no espaço de três meses, e de o colocar a referendo, em seis meses, a par da permanência do Reino Unido na União Europeia. Qualquer que seja o desfecho do referendo, garante o Labour, será implementado.

Mas a proposta eleitoral trabalhista não pretende centrar-se no divórcio britânico com os 27. Até por oposição à campanha do Partido Conservador, totalmente focada na promessa de cumprimento do “Brexit”, ao ponto de Boris Johnson ter utilizado o conteúdo do manifesto como pretexto para desafiar Corbyn a falar na saída da UE.

“O que queremos saber é qual o plano [de Corbyn] para cumprir o ‘Brexit’, que acordo quer fazer [com a UE] e em que votará se esse acordo for a referendo. Até responder a estas questões, e até o ‘Brexit’ estar concluído, nada disto tem qualquer credibilidade económica”, reagiu o primeiro-ministro.

A política interna é, no entanto, a grande aposta dos trabalhistas para contrariar o favoritismo dos tories – estão à frente nas sondagens, com 44% das intenções de voto, contra 28% do Labour, segundo o inquérito da Ipsos MORI, divulgado esta quinta-feira pelo Evening Standard.

“Trata-se de um manifesto lotado de políticas públicas que foram bloqueadas pelo establisment político durante uma geração”, explicou Corbyn, na apresentação, em Birmingham, do documento de 107 páginas, intitulado It’s Time for Real Change.

A busca pela diferenciação com o Partido Conservador é notória, tanto no programa como no discurso. Até porque a investida fiscal contra os “super-ricos” está intimamente ligada com a mensagem anti-sistema da campanha de Corbyn e com o que considera ser uma relação indevida e interesseira às custas dos conservadores.

“Um terço dos multimilionários do Reino Unido fez doações para o Partido Conservador. Os milionários, os super-ricos, os que fogem aos impostos, os maus patrões e os grandes poluidores controlam o Partido Conservador”, criticou o líder da oposição. 

“E ao longo das próximas três semanas, as pessoas mais poderosas do país e os seus apoiantes vão dizer-vos que tudo aquilo que está neste manifesto é impossível de cumprir. Porque não acreditam numa verdadeira mudança. O sistema funciona bem para elas, está viciado em seu favor”, denunciou.

Blitz de investimento

Entre as medidas do “manifesto de esperança” destaca-se a nacionalização dos caminhos-de-ferro, dos correios, das águas e do sistema de distribuição energética; o aumento em 5% dos salários na função pública, já em 2020; o acesso gratuito e universal à Internet; o fim das propinas universitárias; a oferta de residência automática aos actuais residentes de países da UE; e a construção de 150 mil novas habitações sociais até 2024.

Propostas que, garante Corbyn, serão acompanhadas por um grau de investimento público “nunca visto” no Reino Unido e que, ainda assim, não exigirá o aumento de impostos a 95% dos contribuintes – apenas para os que recebem acima de 80 mil libras (93,5 mil euros) ao ano e para as grandes empresas.

“Iremos desencadear um blitz de investimento recorde, para que a economia funcione para todos os cantos deste país. Servirá para melhorar as infra-estruturas nacionais de todas as regiões e nações e para reconstruir escolas, hospitais, lares e casas. Será um investimento com uma escala nunca vista, em cada vila, cidade e região”, afiançou o líder trabalhista.

O combate aos “grandes poluidores” e a promessa de uma “revolução verde” para contrariar as alterações climáticas justifica outras medidas impactantes do programa para as eleições antecipadas.

Chegando ao número 10 de Downing Street, os trabalhistas querem taxar os lucros das empresas petrolíferas e de gás natural e utilizar esse dinheiro para financiar um Fundo de Transformação Verde, que utilizará 250 mil milhões de libras para patrocinar 300 mil estágios no sector ecológico e conceder empréstimos a quem quiser comprar carros eléctricos.

Mais do que o Partido Conservador, a proposta de taxar as petrolíferas promete ser disputada pelo Partido Nacional Escocês e pelos sindicatos que representam os trabalhadores envolvidos na exploração de combustíveis fósseis do Mar do Norte.

“A emergência climática exige uma actuação célere, mas não é correcto que o peso dos seus custos incida sobre enfermeiros, construtores civis ou trabalhadores do sector da energia”, argumentou, no entanto, o líder do Labour. “Um Governo trabalhista garantirá que as grandes corporações petrolíferas e de gás que lucram com o aquecimento do nosso planeta assumam e paguem a sua quota-parte, através de um imposto transição justo”.

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